quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Tendências contemporâneas do teatro brasileiro



Sábato Magaldi



SE A MODERNIDADE do teatro brasileiro pode ser datada de 1943 com a estréia de Vestido de noiva, talvez o marco da contemporaneidade caiba ser definido como o ano de 1978 pelo lançamento de Macunaíma e pelo fim do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Início da fase do domínio dos encenadores-criadores, a partir da montagem de Antunes Filho para a adaptação cênica da Rapsódia de Mario de Andrade, e abrandamento da censura, que levou à mudança da linha da dramaturgia desde o Golpe Militar de 1964.

Costumo afirmar que, didaticamente, certas hegemonias são reconhecíveis no palco brasileiro. Enquanto se realizava, em São Paulo, a Semana de Arte Moderna de 22, o atraso teatral ainda determinou, na década de 20 prolongando-se até a de 30, a hegemonia do ator. O fenômeno Vestido de noiva, que renovou a dramaturgia, com o texto de Nelson Rodrigues, a encenação, com o trabalho de Ziembinski, e a cenografia, com a arquitetura cênica de Santa Rosa, só produziu frutos imediatos e mais visíveis no campo das montagens. Prolongando e consolidando as criações do grupo carioca amador de Os comediantes, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), criado em São Paulo em 1948, estabeleceu a hegemonia do encenador com o concurso dos diretores europeus, sobretudo italianos, que também na década de 50 assumiram as rédeas de conjuntos como o Teatro Popular de Arte (Companhia Maria Della Costa-Sandro Polloni), a Companhia Tônia-Celi-Autran, o Teatro Cacilda Becker e o Teatro dos Sete.
A hegemonia do autor brasileiro só veio a se dar em 1958 quando o Teatro de Arena de São Paulo lançou Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, abrindo caminho para um grupo de jovens talentos. A política de prestígio ao dramaturgo nacional deixou de ser privilégio do elenco paulista para dominar até os redutos que lhe eram mais adversos.
O florescimento da literatura dramática brasileira tornou-se signo da nossa maturidade artística e eis que o Golpe Militar de 1964 - desastroso em todos os sentidos - trouxe para o palco a hegemonia da censura. Ela não veio de repente, como se houvesse outras prioridades a cumprir. A sobrevivência do teatro tornou-se dificílima com a edição do Ato Institucional nº 5 e o advento do governo Medici, que sufocou o que ainda restava de liberdade. No palco só se passou a respirar de novo com a abertura política iniciada no governo Geisel e prosseguida no governo Figueiredo.

A linguagem corrente foi a da metáfora ou, como disse Guarnieri para definir sua produção na década de 70, era possível apenas fazer um "teatro de ocasião". O anseio anônimo de liberdade estimulou os autores a concentrarem-se numa dramaturgia social e política, inimiga das injustiças que advogava a igualdade entre os brasileiros.
O fim da ditadura criou, sob o prisma autoral, inevitável vazio, já que não mais se justificava a mobilização dos autores no combate ao arbítrio. Não que ele deixasse de assumir novas formas, sempre condenáveis. O recurso à metáfora é que já não correspondia às necessidades do momento. Tanto que não funcionou para o público a peça Patética, na qual João Ribeiro Chaves Netto transpôs para o palco, em 1980, a biografia romanceada de seu cunhado - o jornalista Wladimir Herzog - assassinado pelos órgãos repressores. Já Campeões do mundo, de Dias Gomes, fez em 1979 o balanço do que ocorreu desde o Golpe de 64, sem qualquer artifício exigido pela censura, inaugurando assim nova fase do discurso direto.

Explicação verossímil para um certo declínio da dramaturgia na década de 80 é que, desmobilizados os autores na sua faina política, se requeria um tempo razoável para se reabastecerem com novos materiais do interesse do público. A maturação, sob o estímulo da realidade, demanda uma experiência que não se improvisa. Era natural que o palco cedesse espaço para outras preocupações.

Tais preocupações, por sua vez, não eram gratuitas. No passado, Sófocles, Shakespeare e Molière dirigiram as próprias peças. Mesmo os encenadores modernos, que desde a segunda metade do século XIX renovaram o espetáculo teatral colocando sob a sua batuta o conjunto da montagem, na maioria dos casos diziam estar a serviço do dramaturgo. Chegou-se a proclamar que a melhor encenação se qualificava como aquela que não aparecia. Não obstante algumas liberdades tomadas pelos encenadores que tiveram a sua hegemonia no Brasil nas décadas de 40 e 50, esse era, em síntese, seu ideário estético.

Uma forte tendência do teatro contemporâneo em todo o mundo, com repercussão entre nós, alterou essas premissas em virtude de novos pressupostos teóricos. O reconhecimento do teatro como arte autônoma, embora devedora de várias formas artísticas, e não mera ilustração da literatura, provocou importantes mudanças práticas. Admite-se hoje que, se o dramaturgo é o autor do texto, o encenador é o autor do espetáculo. E, pela autoria, compete-lhe assumir uma criação. Criação sui generis, já que fundada em outras, mas que tem o direito de aspirar à plenitude.

Essa criação ora configura-se com maior modéstia, quando o encenador preserva o texto integral e apenas troca as vestimentas antigas pelas atuais; ora intervém na peça, reduzindo os diálogos ou juntando outras obras do autor no mesmo espetáculo; ora adaptando, com ou sem auxílio de outrem, literatura de gênero diverso para o palco; ora, enfim, assumindo a inteira responsabilidade por texto e espetáculo. Se o encenador não encontra, em determinado instante, peça pronta que exprima as preocupações do seu universo, é absolutamente legítimo que procure a criação integral.

As referências internacionais mais próximas para o nosso público ou para os nossos artistas têm sido, no teatro, Victor Garcia, Robert Wilson, Peter Brook e Tadeusz Kantor; na dança, Kazuo Ohno e Pina Baush. Victor Garcia encenou em São Paulo, em 1968, Cemitério de automóveis, que não se limitava ao texto de Arrabal com aquele título, mas agregava a ele três outras obras do autor: Primeira comunhão, A oração e Os dois carrascos. Antunes Filho, ao realizar, em 1981, Nelson Rodrigues o eterno retorno, sintetizou a sua visão do universo do dramaturgo também em quatro textos: Álbum de família, Os sete gatinhos, Beijo no asfalto e Toda nudez será castigada, reduzindo-o, depois, em Nelson 2 Rodrigues, a Álbum de família e Toda nudez será castigada.

Em sua pioneira trajetória artística, Antunes Filho tem utilizado, segundo as conveniências de cada criação, um dos modelos de intervenção acima resumidos: em Macunaína, a adaptação do romance de Mário de Andrade realizada por Jacques Thériot e pelo Grupo Pau Brasil, de acordo com as necessidades do espetáculo que concebeu; em Romeu e Julieta, a música dos Beatles em lugar das composições da época; em Xica da Silva, peça de Luiz Alberto de Abreu de cujas diretrizes divergiu, conservando o nome do autor mas tomando liberdades com o texto; em Vereda da salvação, enxugando o diálogo de Jorge Andrade; em Paraíso Zona Norte, igualmente enxugando A falecida e Os sete gatinhos de Nelson Rodrigues, emprestando-lhes nova ambientação e novas vestimentas; em A hora e vez de Augusto Matagra, dramatizando a narrativa de Guimarães Rosa; em Nova velha história, adaptando sem palavras o conto Chapeuzinho vermelho; e, em Gilgamesh, transpondo para o palco a epopéia do herói do mesmo nome, rei de Uruk, na Mesopotâmia, que precedeu ao menos de um milênio e meio a saga homérica. Cauteloso, Antunes Filho preferiu sempre apoiar-se em obras literárias alheias que permitem maior segurança ao seu vôo criador.

Gerald Thomas, outro encenador de talento, soube privilegiar sempre o aspecto visual, a princípio na sua produtiva parceria com a cenógrafa Daniela Thomas. Sem sucumbir ao formalismo vazio, o impacto inicial vinha de poderosas imagens articuladas no todo da montagem. Meu primeiro contato com o seu trabalho deu-se no Rio de Janeiro, onde se lançaram Quatro vezes Beckett e um texto de Heiner Müller, Quartett. A força da dramaturgia conjugava-se perfeitamente com a originalidade e a precisão dos recursos cênicos empregados. Não tive a oportunidade de assistir a algumas de suas criações, o que me impede de tentar um juízo generalizador. Do que vi, creio que ao utilizar uma dramaturgia sólida sentiu-se mais à vontade para chegar a um resultado artístico pleno. Até na triologia Kafka, O processo, cuja adaptação transpunha a dramaticidade contida no romance original, o rendimento era superior; A metamorfose padecia da pouca teatralidade do tema; e Praga não alcançou um universo ficcional definido. Também Flash and crash day não atinge o estatuto de completa obra artística, perdendo-se na brincadeira de que logo se esquece. Está claro que, pela inteligência e pelo mérito de que já deu mostra, Geraldo Thomas a qualquer momento pode superar suas imperfeições literárias e produzir uma obra-prima de sua inteira autoria.

Num instante mais radical de iconoclastia antiacadêmica, Ulisses Cruz aderiu a um teatro de imagens que parecia julgar a palavra um apêndice incômodo do fenômeno teatral. Por isso consumiram-se no vazio produções como Cândida Erêndira, inspirada em Garcia Marquez. Talvez a fase do exagero prejudicial fosse necessária, para o encenador, não abdicando da própria concepção do espetáculo, retornar a um equilíbrio fecundo. Ele começou a despontar em Desejo, de O'Neill, embora comprometido por desavenças com o elenco. Anjo negro, difícil tragédia de Nelson Rodrigues, mereceu de Ulisses uma leitura de absoluta fidelidade e compreensão. E Péricles rejuvenesceu, no mágico espaço cênico de Hélio Eichbauer, a trama fantástica da tragédia shakesperiana.
Neste ponto, reúno alguns dos nomes saídos do atual Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Em comum, eles têm apenas a circunstância de poderem figurar no grupo dos encenadores-criadores, já que seus caminhos individuais não se confundem. Acredito que os cursos freqüentados lhes deram base para depois, por conta própria, se entregarem à aventura pessoal.

Cronologicamente, o primeiro encenador a obter êxito amplo foi José Possi Neto em 1984, com a montagem da peça De braços abertos, de Maria Adelaide Amaral. Ele soube inocular no palco uma atmosfera mágica, em que a luz dirigia a flexibilidade dos movimentos, evitando os prosaicos pormenores realistas, para instaurar a fluência do sonho.

Pena que a morte prematura tenha roubado do teatro Luiz Roberto Galizia - autor do belo ensaio Os processos criativos de Robert Wilson -, que trouxe para as suas experiências a vitalidade do desempenho. Francisco Medeiros, responsável, a meu ver, pela mais convincente materialização cênica das teorias de Antonin Artaud, não tem trabalhado com a continuidade que seria de desejar. Igual observação se aplicaria a William Pereira que, depois de um criativo Leonce e Lena e de êxitos como Uma relação tão delicada e Senhorita Júlia, se especializou no campo da ópera.

Cacá Rosset, diretor do Ornitorrinco, um dos poucos grupos a ostentar um perfil identificável, vem conseguindo desempoeirar os clássicos, tratados por ele como contemporâneos. De Brecht a Shakespeare a agora de novo ao Jarry, de Ubu - texto que há um século indicava os procedimentos da vanguarda -, ele evitou os riscos museológicos da submissão passiva e escolheu a irreverência que se encontrava no cerne de suas obras, obtendo a cumplicidade franca da platéia.

Diferentemente de Flávio Império, que foi buscar no Teatro de Palladio em Vicenza, na Itália, o modelo para vestir o palco nu recomendado por Nelson Rodrigues em A falecida, Gabriel Villela extraiu do texto os signos de seu inventivo cenário. No fundo, tacos de sinuca, dispostos à maneira de velas num altar. No chão, a própria mesa de jogo, e o pano verde, no final, sugerindo o campo de futebol, última jornada do protagonista em desespero. Em síntese admirável, todos os ambientes da tragédia carioca estão contidos no espaço da cena. Em outras montagens, Gabriel Villela incorporou ao palco reminiscências barrocas de sua Minas natal, fundindo-as na mesma atmosfera mítica. O mambembe, apesar de seus aspectos positivos, entre os quais a mala a simbolizar o título, diluiu a bela construção dramática de Artur de Azevedo, que perdeu a sua organicidade, sem que entrasse no lugar outro valor palpável.

Antonio Araújo, afinado com uma das vertentes da estética atual, procura fugir dos teatros convencionais e localiza O paraíso perdido - adaptado do poema de Milton - dentro de uma igreja, e o bíblico O livro de Jó - que Luiz Alberto de Abreu transformou em peça - nos múltiplos recintos de um hospital. As possibilidades de exploração do espaço enriquecem sobremaneira o rigor criativo de Antonio Araújo.

Eduardo Tolentino de Araújo, que havia feito em Viúva porém honesta uma das leituras mais originais de Nelson Rodrigues, conduz com mão firme o Grupo Tapa originado no Rio de Janeiro há mais de uma década, e recebe o reconhecimento da crítica ao realizar expressivo panorama do teatro brasileiro. Um juízo superficial o consideraria menos audacioso que outros encenadores-criadores. Basta ver os espetáculos Vestido de noiva e Rasto atrás para concluir que, sob a aparência nada bombástica das duas montagens, surge uma imagem profunda dos textos. Pela primeira vez a obra de Nelson Rodrigues conseguiu desligar-se, de forma convincente, do fantasma da encenação histórica de Ziembinski. O aproveitamento plástico dos espelhos sugeriu, com extrema mobilidade, o intercâmbio permanente entre os planos da realidade, da memória e da alucinação. E o exigente texto de Jorge Andrade, que recorre ao protagonista em várias idades e, em certas cenas as coloca todas no palco em diálogo simultâneos, não perde em momento algum a clareza. Tolentino teve a coragem de enfrentar verdadeiros tabus da dramaturgia brasileira e imprimir-lhes um tratamento contemporâneo.

Vários outros encenadores, que vêm de fases de diferente inspiração, não perderam a atualidade e continuam forças vivas do nosso palco. Mencionam-se, entre eles, José Celso Martinez Corrêa, Antonio Abujamra, Celso Nunes, Fauzi Arap e Marcio Aurélio. E deixei de lado encenadores mais conhecidos do público no Rio, entre os quais Aderbal Freire-Filho, Moacyr Góes, Bia Lessa e Marcio Vianna, há pouco falecido, que vimos em São Paulo na esplêndida montagem de O futuro dura muito tempo, sobre a tragédia de Louis Althusser.

A par da necessidade de procurar novas fontes, depois da abertura política, há de se entender que a passagem dos encenadores-criadores ao primeiro plano, iniciada com Macunaína, intimidou um pouco os dramaturgos. Em grande parte, sentiram-se desestimulados a cumprir a própria trajetória, que não se ajustava à tendência todo-poderosa dos diretores. Veja-se o caso de Maria Adelaide Amaral. Era natural que depois do imenso êxito da peça De braços abertos, em 1984, todos os seus textos fossem imediatamente apresentados. No entanto, ela precisou esperar várias temporadas para que subissem à cena Querida mamãe e Intensa magia, que obtiveram também grande sucesso. A falta de resposta imediata à legítima aspiração de ser encenado obriga o autor a tentar outros veículos, dos quais o mais pródigo é a televisão.

Exceção, nesse quadro, chama-se Nelson Rodrigues. Desde a estréia de O eterno retorno, em 1981, logo após a sua morte, passou a ser mitificado. Descobriu-se que era um clássico, e os clássicos se prestam às mais controvertidas exegeses, pela riqueza inesgotável de sua obra. Cada encenador pretendeu mostrar a sua leitura de Nelson, a ponto de dizerem que os herdeiros deveriam retirá-lo do mercado de espetáculos, sob pena de o público sofrer uma indigestão. Esse temor felizmente não se confirmou, porque a temporada de 1994 foi das mais felizes no sentido de oferecer uma reavalização positiva do dramaturgo, em virtude das montagens de A falecida, por Gabriel Villela; Anjo negro, por Ulisses Cruz; Senhora dos afogados, por Aderbal Freire-Filho; e Vestido de noiva, por Eduardo Tolentino de Araújo. À semelhança do que sucede a Shakespeare, cada peça de Nelson deveria ser periodicamente remontada.

Antunes Filho iniciou o processo de relançamento de Jorge Andrade com Vereda da salvação, e Eduardo Tolentino secundou-o com Rasto atrás, texto que de forma absurda se encontrava até recentemente inédito em São Paulo, estado natal do dramaturgo. Passado o purgatório a que é condenada a maioria dos autores após a morte, terá chegado o momento de sua ascensão ao paraíso? Oduvaldo Vianna Filho, após o êxito extraordinário de Rasga coração e Papa Highirte, também somente lançadas depois do afrouxamento da censura, permaneceu em injusto ostracismo até a recente remontagem de Corpo a corpo, feita por Eduardo Tolentino. Embora seu teatro empenhado não corresponda ao gosto do dia, os valores perenes que defende deveriam ser sempre ouvidos.
Outros dramaturgos, por motivos diversos perderam o interesse dominante pelo teatro. Ariano Suassuna desviou-se, ao menos temporariamente, do palco pela necessidade de exprimir-se no romance, em que se notabilizou com as criações do Romance d'a pedra do reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta e O rei degolado. Gianfrancesco Guarnieri não tem sido bem-sucedido nas últimas incursões autorais. Augusto Boal passou a concentrar-se na teoria e na prática do Teatro do Oprimido, a contribuição única de um brasileiro a obter acolhida internacional.

Dias Gomes, sempre escrevendo para o palco, ao lado da criação regular de telenovelas, sente-se pouco à vontade no atual sistema utilizado para produzir espetáculos, tema que examinarei adiante. Plínio Marcos prossegue na ordem do dia, ainda sem a veemência dos anos 60. Lauro Cezar Muniz e outros nomes têm se dedicado de preferência à televisão, veículo que, aliás, assegura a sobrevivência de muitos artistas impossibilitados de garanti-la somente no teatro.

Naum Alves de Souza, que nos anos 70 trouxe para a cena uma sensibilidade delicada, não está conseguindo consolidar a sua dramaturgia nos últimos anos. As dificuldades quase insuperáveis para uma produção séria, hoje em dia, têm silenciado numerosos nomes promissores.

O espaço aberto pela dramaturgia séria, que não conseguiu articular uma nova linguagem ao liberar-se da censura, passou a ser ocupado por um gênero diferente da comédia e da revista, e que no batismo recebeu o nome muito significativo de besteirol. Sobretudo a cena carioca, talvez mais afeita às manifestações ligeiras, depressa entronizou a fórmula fácil, que se espalhou um pouco por toda parte.

Acostumando-me, no decorrer dos anos, a aceitar minhas limitações, confesso que tenho pelo besteirol indisfarçável horror. Por mais que ensaístas respeitáveis lhe atribuam uma categoria artística, acho-o apenas o produto de melancólica alienação, cuja responsabilidade deve caber, em grande parte, aos tristes tempos da ditadura. Não há nele o saudável nonsense do absurdo nem outro ingrediente apreciável, mas apenas a algaravia que beira a debilidade mental. É preciso reconhecer que se está mostrando cada vez mais escassa a lamentável perda de tempo com o besteirol.

É com prazer que registro a recuperação de Mauro Rasi que, depois da promissora estréia de A massagem, havia aderido ao gênero. Ele reencontrou-se ao dramatizar a memória na triologia formada por A estrela do lar, A cerimônia do adeus e Viagem a Forli. O mergulho autobiográfico deu consistência a essa educação sentimental do autor, a qual acaba de se acrescentar, formando uma tetralogia, a peça Pérola, deflagrada pela morte de sua mãe. Ainda um tanto perdido, talvez pela dispersão excessiva a que entrega, Miguel Falabella, principalmente no monólogo Loiro, alto, solteiro, procura..., em que se socorre também de seu real talento de intérprete, parece às vésperas de engrossar a cadeia da boa dramaturgia.


Problemas e desafios

Sob o prisma artístico, a conclusão é a de que os vários desajustes estão sendo superados. O encenador, passada a ressaca da bebedeira criativa, deseja o equilíbrio com os outros elementos do espetáculo. A harmonia de todas as funções é o ideal perseguido. Por isso os diretores mais conscientes estão preocupados em aprimorar métodos de interpretação, já que a última palavra no diálogo com o público é dada mesmo pelo ator. Os malabarismos da imaginação ficam mudos se não se corporificam num bom desempenho. O dramaturgo toma cada vez mais consciência de que precisa escrever para a cena, tendo como mediador aquele que sabe materializar o seu mundo e o outro que empresta voz à sua palavra.
Não estou desmobilizando qualquer tendência e creio que, vencidos os excessos, todos contribuirão da melhor maneira para concretizar o teatro dos nossos sonhos, afinal, uma arte coletiva. Os verdadeiros problemas do palco não se encontram nele, quando se equacionam e se resolvem as divergências estéticas. Talentos maiores e menores o Brasil produz, sem conta. Tivessem eles oportunidade de atingir o público, nossa realidade cênica seria muito mais rica, diversificada e ninguém endossaria a crença segundo a qual o brasileiro não gosta de teatro. É verdade que o saudoso Anatol Rosenfeld diagnosticou terem o cinema e a televisão dominado os nossos hábitos, antes que se consolidasse o prazer do palco, o que não ocorreu na Europa. Penso, entretanto, haver outros motivos que dificultam o entendimento perfeito entre palco e platéia.

O mais grave refere-se às dificuldades para a produção. Mesmo no tempo da ditadura, o Estado subsidiava o teatro. Não importa recorrer a raciocínio de ordem moral, havendo os que pensam existir, nas subvenções, tentativa de compra das consciências. Tenho para mim que essa era uma prática já consolidada, que ninguém pensava em alterar. Lembre-se que na França, na Alemanha, na Itália e na Inglaterra, entre outros países adiantados, nunca se pôs em dúvida o apoio maciço à cultura. Na Alemanha dividida, a parte ocidental reservava para a bilheteria a função de cobrir apenas 20% do orçamento dos teatros oficiais, responsabilizando-se o Estado pelos 80% restantes. Os Estados Unidos, paradigma da livre iniciativa, compreenderam a necessidade de amparar a cultura: o National Endowment for the Arts e as fundações colocaram sob as suas asas as iniciativas sérias, excluindo somente as de caráter abertamente comercial.

O advento da abertura pôs em circulação no Brasil uma filosofia perversa, como se a proteção à cultura nascesse de um lobby corporativista. O protecionismo campeava nas atividades econômicas que poderiam dispensá-la, ao passo que o Ministério da Cultura ficou reduzido à ridícula verba de 0,04% do orçamento da União. Evidentemente, com numerário que mal dava para o seu próprio custeio, o Ministério teve de abdicar de uma política de cultura, no que foi acompanhado pelos governos estaduais.

Diante do impasse criou-se a panacéia do recurso às leis de incentivo fiscal, delegando à iniciativa privada o papel de estímulo à cultura, em troca de benefícios de natureza fiscal. Considero essas leis muito úteis como coadjuvante no processo de valorização artística, mas nada justifica, por causa delas, que o Estado se omita. A continuidade da vida teatral não pode se subordinar ao arbítrio dos dirigentes de empresas particulares, por mais esclarecidos que sejam.

Fernanda Montenegro, atriz que ocupa posição privilegiada em nossa cena, assim se manifestou sobre o assunto, em matéria publicada em 6 de janeiro, no jornal O Estado de S. Paulo: "Não estou defendendo uma total participação estatal no setor cultural, mas é preciso que exista uma coalizão, porque a empresa privada está interessada em outros resultados. Quando se pede um patrocínio, a empresa quer um nome famoso e um texto sem compromisso. Dias felizes foge à regra, mas não é comum que uma empresa se interesse por Beckett".

No mesmo jornal, em 20 de janeiro, Renato Borghi foi mais incisivo: "Na época da ditadura, você se apresentava previamente para o Deops e agora tem de se apresentar para o Café Caboclo, para a Phytoervas. O produto tem de corresponder ao que muitos apoios esperam de você como retorno. Então, essa palavra retorno, que é quantitativa, passa a exercer um fascínio. Dizem: 'Te dou o vinho tal durante a temporada, mas tenho que assistir antes a tua peça'. Ou seja, estou sendo julgado por firmas de vinho, café, maquiagem etc. Jogar a cultura para o patrocínio privado e o Estado se isentar completamente é uma política equivocada e uma traição para com a sociedade, que paga tributos e quer ver atuantes as secretarias de cultura dos governos. A arte é essa coisa maluca, insubordinada. E, de repente, tem de ficar domada, relacionada a esse retorno quantitativo". Um possível patrocinador do atual espetáculo de Renato Borghi - Édipo de Tabas - perguntou se o protagonista não poderia se eximir de furar os próprios olhos, anulando a beleza e o significado da lenda e da tragédia sofocleana.

Seria injusto omitir que a atual administração do Ministério da Cultura está ciente da insatisfação provocada pela ausência de uma política específica de artes cênicas e pretende em breve implementá-la. Tomara que ela atenda ao reclamos do pessoal de teatro. E que seu exemplo seja seguido pelos organismos congêneres dos estados e dos municípios.

Cumpre admitir que outra dificuldade para o desenvolvimento harmonioso do teatro vem de sua insatisfatória divulgação. Utilizarei minha longa experiência na imprensa como comprovante das alegações. A partir de 1950, no Diário Carioca, eu mantinha uma coluna diária, preenchida com críticas, noticiário, reportagens e entrevistas. No jornal O Estado de S. Paulo, em que Décio de Almeida Prado se demorava na análise fundamentada dos espetáculos, criei, em 1954, uma coluna diária de informações teatrais, de cerca de 100 linhas, secundada por colunas sobre música erudita e artes plásticas. A partir de 1956 eu fazia semanalmente, no Suplemento Literário, um longo comentário alusivo a quaisquer temas de teatro. Os empresários obtiveram da direção do jornal um desconto substancioso no anúncio dos famosos tijolinhos, e a publicidade, assim, não pesava no orçamento das companhias. Naquele tempo, a televisão e a música popular, de qualquer gênero, não tinham a honra de figurar no noticiário.

Os custos da produção jornalística elevaram-se, o espaço passou a ser disputado por maior número de eventos e o teatro perdeu, no decorrer das últimas décadas, a condição de arte privilegiada. Durante algum tempo, por exemplo, o Jornal da Tarde publicava uma seção semanal de teatro, substituída nos outros dias por seções semelhantes das demais artes, e todas foram suprimidas, enquanto se divulga uma seção diária de gente de tevê. Por múltiplos caminhos, o teatro se elitiza, o que na prática redunda em redução de espeCTAdores e desestímulo ao preparo de maior número de montagens.

A década de 50 conheceu verdadeira explosão imobiliária, que acarretou o aparecimento de numerosas casas de espetáculos. Outros bairros continuam a surgir, mas ao crescimento demográfico não corresponde à construção de novos teatros. Ao contrário, a inviabilização econômica tem determinado o fechamento de vários espaços. Não se trata de perseguição ao teatro: o trabalho está cada vez menos disponível, num país que decidiu adotar um modelo equivocado.


Num sistema que privilegiaria a iniciativa privada, paradoxalmente os proprietários particulares são forçados a se desvencilhar de seus teatros. Os custos de manutenção inviabilizam a continuidade. Por sua vez, por falta de verbas orçamentárias, desviadas para outras supostas prioridades, o Estado deixa em abandono as salas que construiu ou resolveu arrendar. Em São Paulo, a maioria dos bons teatros pertence a entidades: Sesc, Sesi, Aliança Francesa, Círculo Italiano, Hebraica. Advirto que, a prevalecerem as restrições que se pretende impor a alguns desses serviços, as iniciativas louváveis que eles desenvolvem, como o Centro de Pesquisa Teatral e o Teatro Popular, passam a correr sérios riscos.

É forçoso lembrar, por último, o incalculável dispêndio de energia a que se submete o pretenso espeCTAdor, numa megalópole, para sair de casa. Não se chega aos lugares em tempo razoável, as vias de acesso estão freqüentemente bloqueadas e não se tem segurança no trânsito. Entende-se, nesse quadro, a preferência por ligar a televisão, que ademais é de graça. Tudo parece conspirar contra a sobrevivência do teatro.
Há de se convir que os problemas o transcendem e sua solução depende de estratégias que desafiam os governantes. Uma verdade parece insofismável: sejam quais forem as tendências contemporâneas do palco brasileiro, a perenidade do teatro está assegurada pelo insubstituível diálogo dentre o ator e o público.

Sábato Magaldi é crítico, historiador e professor de teatro. Deu aulas na Sorbonne (Universidade de Paris III) e na Universidade de Aix-en-Provence. Em julho de 95, tomou posse na Academia Brasileira de Letras. É autor de vários livros, entre eles Panorama do teatro brasileiro, Iniciação ao teatro, Nelson Rodrigues: dramaturgia e encenação e O texto no teatro.


Conferência do Mês do iea-USP feita pelo autor em 9 de abril de 1996 no auditório da Escola de Arte Dramática da USP.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PROXIMO ATO

SOBRE O ENCONTRO


O Próximo Ato – Encontro Internacional de Teatro Contemporâneo é um programa anual de reflexão teórico-prática que reúne artistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros. É realizado pelo Instituto Itaú Cultural com apoio do British Council, Consulado Geral da França, Goethe Institut – São Paulo e Centro Cultural da Espanha – Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento.

Desde sua 4ª edição, em 2006, o encontro debate a experiência de teatro de grupo no Brasil. Um conselho formado por Antonio Araujo, José Fernando de Azevedo e Maria Tendlau assina o recorte curatorial desde aquele ano, quando o foco principal foi a questão: “O que é o teatro de grupo e qual é o espaço onde os coletivos teatrais se inserem artística, política e economicamente?”. Em 2007, objetivou-se identificar a relação entre as formas de organização e a poética dos grupos, e se iniciou um compartilhamento de práticas de criação com participantes de 50 grupos de teatro.

Em 2008 aprofundou-se o debate sobre experiência e forma na produção do teatro de grupo no Brasil. Além da programação em São Paulo, o Próximo Ato organizou encontros em Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, promovendo a articulação entre artistas e campos artísticos e coletando, organizando e analisando informações sobre a arte e a cultura brasileiras de maneira descentralizada.

Agora, na edição 2009, retomamos esse percurso com encontros em Brasília, reunindo 25 grupos da região centro-oeste, e em Belém, com 30 grupos do norte. O encontro nacional acontece em novembro, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, com representantes de grupos dos 27 estados brasileiros. Assim se encerra o ciclo de 4 anos de discussões sobre a experiência do teatro de grupo no Brasil.

2009

TEATRO DE GRUPO: FORMAS DE CONVÍVIO E AMADURECIMENTO

A sétima edição propõe um debate acerca das formas de convívio engendradas no interior dos coletivos teatrais e de como estas formas garantem ou não um amadurecimento potente destes grupos. Nicolas Bourriaud, em Estética Relacional, afirma “Sabe-se que as atitudes se tornam formas; agora, deve-se levar em conta que as formas induzem modelos de sociabilidade”.

Foram convidados dois representantes de teatro de grupo dos 26 estados, além de 80 grupos paulistas para o encontro nacional. Serão lançados os livros Estética Relacional e Pós-Produção – Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo, do crítico de arte e curador francês Nicolas Bourriaud, e Escritura Política no Texto Teatral, do teórico e ensaísta alemão Hans-Thies Lehmann. Esses autores, assim como o filósofo Paulo Arantes, o psicanalista Eduardo Losicer, o pesquisador Óscar Cornago e a performer Eleonora Fabião, guiam o encontro.

O Próximo Ato afirma-se como programa nacional e intensifica a cooperação internacional entre o Itaú Cultural, o Centro Cultural da Espanha − São Paulo (Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento − Aecid), o Conselho Britânico, o Consulado Geral da França e o Goethe-Institut São Paulo. O instituto agradece o apoio do Centro Cultural São Paulo, que disponibiliza salas para as vivências práticas; da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (Abrace), que traz Hans-Thies Lehmann e Óscar Cornago a São Paulo, da Editora Perspectiva, que promove o lançamento do livro desse pensador alemão; da editora Martins Martins Fontes, que apoia o lançamento dos livros e a participação de Nicolas Bourriaud; e finalmente dos grupos Teatro de Narradores, Teatro da Vertigem e Grupo XIX de Teatro, que abrem suas sedes para encontros de discussão.

Sonia Sobral

Gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural

Personalidades

FONTE:
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia


ANTUNES FILHO (1929)


José Alves Antunes Filho (São Paulo SP 1929). Diretor. Pertence à primeira geração de encenadores brasileiros, discípulo dos diretores do Teatro Brasileiro de Comédia. Participa ativamente do movimento de renovação cênica surgido nos anos 1960 e fins de 1970. É o primeiro diretor a empreender uma obra dramatúrgica e cenicamente autoral, com a montagem de Macunaíma, espetáculo considerado referência para os jovens encenadores dos anos 1980. Nos anos 1990, desloca suas preocupações para o Centro de Pesquisas Teatrais - CPT, grupo de produção, formação e desenvolvimento de novos conceitos e exercícios na busca do refinamento de um método próprio de interpretação para o ator.

Em 1952, ingressa como assistente de direção no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, onde tem a oportunidade de observar os trabalhos dos diretores Ziembinski, Adolfo Celi, Luciano Salce, Ruggero Jacobbi e Flaminio Bollini, todos estrangeiros, contratados para desenvolver, preparar e especializar a equipe da companhia. Estréia profissionalmente, em 1953, com a montagem de Week-end, de Noel Coward, encenada no Teatro Íntimo Nicette Bruno. O texto é uma comédia inteligente, apoiada num humor requintado, cuja montagem recebe tratamento natural e acelerado, consequência direta do ritmo inusitado e frenético imposto por Antunes Filho aos ensaios.

No fim dos anos 1950, funda e dirige a companhia Pequeno Teatro de Comédia, que estréia em 1958, espetáculo O Diário de Anne Frank, tendo a atriz Dália Palma como protagonista. Pelo trabalho de montagem, Antunes Filho é premiado como melhor diretor pela Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA e pela Associação Carioca de Críticos Teatrais - ACCT. Dirige, em 1959, Alô...36-5499, de Abílio Pereira de Almeida, com assistência de direção de Ademar Guerra, marcando o início de uma parceria longa e de diversas montagens. Esse espetáculo representa, no momento, um desafio - conciliar o desejo de trabalhar com um texto nacional e com o aprofundamento de sua pesquisa estética ao retorno financeiro. Logo após encena Pic Nic, de William Inge. Nos três espetáculos explorando as fronteiras estéticas do realismo, Antunes Filho alcança a coesão pretendida para as encenações, o que lhe rende reconhecimento e afirma o seu talento como diretor. A virada da companhia, contudo, vem com Plantão 21, de Sidney Kingsley, ambientado numa delegacia de polícia, motivo para uma movimentação constante de 30 atores vivendo situações de violência e crua exposição dos conflitos. A excelente exploração cênica de Antunes Filho permite uma condução quase cinematográfica no desempenho dos atores. Nessa peça, Jardel Filho se destaca entre os atores de um elenco, que também presencia a estréia de Laura Cardoso.

Viaja à Itália em 1960, para um estágio com Giorgio Strehler no Piccolo Teatro de Milão. De volta ao Brasil, dirige um polêmica montagem de As Feiticeiras de Salém. O texto de Arthur Miller, de um realismo psicológico bem construído, é, paradoxalmente, tratado pela direção com uma abordagem épica, desnorteando crítica e público.

O último espetáculo encenado pelo Pequeno Teatro de Comédia, em 1961, é Sem Entrada, Sem Mais Nada, de Roberto Freire, fruto das pesquisas e discussões realizadas no Seminário de Dramaturgia do Teatro de Arena, sobre a vida proletária a partir de um enfoque marxista e tendo à frente do elenco a atriz Eva Wilma. A peça é montada no palco do Teatro Maria Della Costa - TMDC, onde Maria Bonomi, colaboradora da companhia desde a montagem anterior, elabora a cenografia de uma habitação coletiva distribuída em cinco planos. Apesar de o programa da peça classificar a encenação como expressionista, a montagem de Antunes Filho é de um realismo enfatizado pelo depuramento formal, resultando num espetáculo teatralista, "canto do cisne" do Pequeno Teatro de Comédia, que enfrenta dura crise financeira.

Em 1962, com uma carreira sedimentada como um dos diretores mais destacados do período, volta ao TBC e encena Yerma, de Federico García Lorca, com cenários e figurinos de Maria Bonomi, música de Diogo Pacheco e um formidável desempenho de Cleyde Yáconis.

Já nesse período se avolumam opiniões contraditórias sobre a sua forte personalidade. Para alguns atores, o tratamento autoritário e a exigência de uma disciplina exemplar por parte dos elencos frustram algumas carreiras. Para outros, resultam em desempenhos brilhantes e diferenciados. Para o diretor, o trabalho dos atores não se restringe ao estudo das personagens: abarca todos os aspectos da montagem. Equipes são montadas para dar conta do estudo de um ângulo da obra, já que a base de seu método de trabalho é a busca do maior conhecimento possível sobre o universo da peça. Segundo Antunes Filho em entrevista concedida para o Diário de S. Paulo: "Se massacrar é obrigar o ator a estudar, a assumir responsabilidade do momento em que vive, é fazer do ator o senhor dentro do palco e dentro da história em que ele participa, então, nesse sentido, massacro o ator. Eu o quero independente, eu o quero senhor absoluto do palco (...) o ator terá que ser ao mesmo tempo cientista, artista, físico, matemático, professor de literatura, político e sociólogo. Pode ser meio utópico o que vou dizer, mas o ator será a grande síntese do conhecimento humano. (...) Se mostrar tudo isso ao ator é massacrar, então eu o massacro".1

Volta ao TBC, em 1964, para encenar Vereda da Salvação, de Jorge Andrade, cujo processo de montagem submete o elenco a uma bateria de laboratórios físicos e psíquicos, na busca de um instinto e uma verdade que resultam num realismo chocante. O espetáculo divide público e crítica, e a polêmica faz com que a casa o retire bruscamente de cartaz. Os prejuízos contabilizados apressam o fim do TBC como empresa.

Antunes Filho tem seu primeiro contato com a obra de Nelson Rodrigues com a encenação de A Falecida, em 1965, na Escola de Arte Dramática - EAD. No mesmo ano, cria o Teatro da Esquina e com ele encena A Megera Domada, de Shakespeare, bem recebido pela crítica. O êxito não se repete em Júlio César, uma realização relâmpago, confusa e cheia de incidentes, unânime fracasso com direito a show de vaias em pleno Theatro Municipal de São Paulo. Em 1967, Black-Out, de Frederick Knott, recupera o prestígio de Antunes, e apresenta uma elogiada interpretação de Eva Wilma.

Segue-se A Cozinha,, 1968, de Arnold Wesker, que anuncia seu retorno ao teatralismo. Esse é o último trabalho que o diretor desenvolve com o Teatro da Esquina. Afasta-se do ambiente teatral em plena ascensão da contracultura, para realizar um projeto cinematográfico, Compasso de Espera, sobre as contradições do negro diante das questões raciais no país.

Em 1971, em contraponto ao teatro gestual e metafórico - desencadeado a partir da visita do Living Theatre a São Paulo - Antunes Filho realiza uma encenação de Peer Gynt, de Ibsen, uma retomada da palavra e um resgate da colocação do homem no centro dos acontecimentos. A crítica atribui à iniciativa muitos méritos, como se o advento representasse um manifesto perante as vanguardas do momento. É também nesse ano, em consequência das perseguições e censura inflingidas pelo Regime Militar às companhias de teatro, que o diretor cria a empresa Antunes Filho Produções Artísticas, que passa a responder juridicamente por suas realizações.

Depois de uma série de montagens grandiosas, dirige o monólogo Corpo a Corpo, de Oduvaldo Vianna Filho, com Juca de Oliveira, em 1972, e, no ano seguinte, Nossa Vida e Em Família, do mesmo autor, com elenco encabeçado por Paulo Autran. Para recuperar os gastos com a montagem anterior, realiza uma produção comercial, a comédia policial O Estranho Caso de Mr. Morgan, de Peter Shafer, última realização exclusiva da empresa, abrindo seus serviços para outros produtores. Sandro Polloni contrata-o para dirigir a volta de Maria Della Costa aos palcos, após três anos de ausência, em Bodas de Sangue, de Lorca.

Em 1974, encena pela segunda vez um texto Nelson Rodrigues, Bonitinha, mas Ordinária, onde se destaca a interpretação de Miriam Mehler. No trabalho consecutivo, seu radicalismo não encontra espaço de atuação, o que o leva a assistir o fracasso da montagem Tome Conta de Amélie, vaudeville de Feydeau, novamente com Maria Della Costa. Sentindo-se marginal no teatro, Antunes abre uma nova frente de pesquisa, transferindo para a televisão os objetivos de sua investigação estética. Na TV Cultura, tem liberdade para realizar suas experimentações numa série de teleteatros, dentre elas, a inesquecível adaptação de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, com Lilian Lemmertz no papel de Alaíde.

Mas Antunes persiste na busca por alternativas que o permitam produzir suas peças , o que o leva a montar, em 1975, uma cooperativa para encenar Ricardo III, de Shakespeare. Com essa montagem, "comédia tropicalista", viaja pelo Brasil, encerrando turnê no Theatro Municipal de São Paulo. A cooperativa termina ao fim da temporada.

Em seguida, dirige O Assalto, de José Vicente, produzida por Raul Cortez. Em 1977, encena Esperando Godot, de Beckett, com um elenco exclusivamente feminino. No ano seguinte, monta Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee, produção novamente de Cortez, despedida do teatro convencional já que, no mesmo ano, realiza Macunaíma, que estréia em setembro de 1978, sua obra mais importante, dando uma virada radical em sua carreira.

Com o abrandamento da Censura e o clima de abertura, o teatro político ensaia seu retorno, enquanto, em contraponto, nascem outras tendências, entre elas as que expressam com irreverência o comportamento de uma nova geração, como o grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Após ter conduzido grandes atores, em interpretações inesquecíveis, Antunes volta-se para os jovens, com os quais passará a conviver permanentemente. Macunaíma surge de uma oficina teatral, em torno da obra de Mário de Andrade. Ensaia por quase um ano - aprimorando seu método de tornar os atores criadores de um processo e de uma linguagem -, com o Grupo de Arte Pau-Brasil, até chegar ao texto final, de Jacques Thiériot. Macunaíma abre as perspectivas para um novo e ousado processo de criação: não mais pesquisar o universo de um texto dramático, mas construir uma dramaturgia a partir de um texto literário. A encenação explora diversas dinâmicas de um teatro coletivo, alcançando os contornos míticos propostos pelo texto. Macunaíma torna-se o espetáculo brasileiro mais visto e aplaudido no exterior, visitando inúmeros países em todos os continentes, participando de festivais e ganhando prêmios internacionais. Aqui, é reconhecido como um marco da encenação. Espetáculo que inaugura uma abertura para o trabalho de jovens diretores. Esses, na década seguinte, construirão seus espetáculos a partir de um trabalho cênico com os atores, sempre com uma leitura muito autoral e que dialoga com as mudanças introduzidas por Antunes Filho.

O grupo cooperativado que cria Macunaíma sofre reformulações e passa a chamar-se Grupo Macunaíma. Com este, Antunes dá continuidade ao aprofundamento de sua pesquisa por meio das produções: Nelson Rodrigues - O Eterno Retorno, 1981, reunindo quatro peças do autor, que são condensadas em Nelson 2 Rodrigues, 1982; Romeu e Julieta, 1984, de Shakespeare; Hora e a Vez de Augusto Matraga, 1986, baseada na obra de Guimarães Rosa; Xica da Silva, 1988, de Luís Alberto de Abreu; e Paraíso Zona Norte, mais dois textos de Nelson Rodrigues, 1989.

Para o crítico Yan Michalski, analisando a trajetória dessa fase pós-Macunaíma: "(...) são espetáculos que contêm uma base de gramática comum, simbolizada por um trecho da valsa Danúbio Azul, que ele adota como uma espécie de assinatura. Mas cada um possui perfil próprio, desenhado a partir de uma leitura pessoal do texto. Os três últimos inscreveram-se, por outro lado, na proclamada intenção de Antunes de empreender um estudo do homem brasileiro. Nem todos, na verdade, alcançam o mesmo padrão qualitativo: se Nelson 2 Rodrigues foi considerado por muitos até mesmo superior a Macunaíma, e fez, como este, triunfais tournées pelo exterior, Romeu e Julieta e sobretudo Xica da Silva foram recebidos com reservas. Mas, desde Macunaíma, qualquer nova realização de Antunes é um acontecimento excepcional, acima do padrão de excelência do teatro nacional; e o conjunto dos seus trabalhos da década de 80 leva o toque de um criador de admirável inventividade, rigor e apuro estético".2

Para viabilizar esse projeto de pesquisa, Antunes recebe subsídios do Serviço Social do Comércio - Sesc, conquistando, assim, uma infra-estrutura para a criação do Centro de Pesquisa Teatral - CPT, escola de formação e grupo permanente, ocupando o Sesc Vila Nova.

Nos anos 1990 os lançamentos prosseguem: Nova Velha História, 1991, texto construído em uma língua imaginária, tendo como base o conto infantil de Chapeuzinho Vermelho, de Grimm; Trono de Sangue, 1992, inspirado em Macbeth, de Shakespeare; Vereda da Salvação, 1993, sua segunda montagem do texto de Jorge Andrade; Gilgamesh, 1995, baseado na Epopéia de Gilgamesh, texto sumério escrito em 2.600 a.C.; Nas Trilhas da Transilvânia, 1995, uma leitura de Drácula e Drácula e Outros Vampiros, 1996, reformulação do espetáculo anterior. A partir de então, Antunes dedica-se mais exclusivamente aos trabalhos no CPT, formando atores que sejam simultaneamente intérpretes e dramaturgos. A série Prêt-à-Porter, exercícios de interpretação iniciados em 1998, ocupa essa nova empreitada, síntese da metodologia que desenvolve ao longo sua vida artística.

Em 2000 retorna às encenações, debruçando-se sobre as tragédias, realiza Fragmentos Troianos, inspirado em As Troianas, e, em 2001, Medéia, ambas de Eurípides.

Ainda na avaliação de Yan Michalski: "Antunes Filho é uma das figuras exponenciais do teatro brasileiro de hoje, talvez a única a integrar o restrito grupo internacional de encenadores que vêm renovando, obstinada e inspiradamente, a cena mundial. Incorporando no seu trabalho influências tão contraditórias como Bob Wilson, Tadeusz Kantor, Kasuo Ono, o expressionismo alemão, a psicanálise junguiana, a física moderna e, com crescente intensidade, a filosofia oriental, ele as funde numa escritura cênica de uma feroz coerência pessoal, com características ao mesmo tempo universais e brasileiras. Sua opção por trabalhar com atores jovens e inexperientes, lhe tem valido não poucas críticas (...). Mas este é um ônus que ele assume pagar para poder trabalhar num âmbito de liberdade de criação de que nenhum outro diretor brasileiro dispõe".3

Notas

1. ANTUNES FILHO. Entrevista do encenador ao Diário de São Paulo, 04 dez. 1973.

2. MICHALSKI, Yan. Antunes Filho. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.

3. Ibidem

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CIBELE FORJAZ (1966)

Cibele Forjaz Simões (São Paulo SP 1966). Diretora e iluminadora. Encenadora paulista integrada às mais inquietas correntes de pesquisa cênica a partir das décadas de 80 e 90.

Em sua formação, Cibele passa pelo Centro de Pesquisa Teatral, CPT, de Antunes Filho, e pelo curso de direção teatral da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP. Seus primeiros trabalhos são realizados com o grupo Barca de Dionisos, do qual é uma das fundadoras, juntamente com o diretor William Pereira.

Projeta-se como encenadora no espetáculo A Paixão Segundo GH, inspirado na obra de Clarice Lispector, levando Marilena Ansaldi a um brilhante desempenho, em 1989. No ano seguinte, encena O Lamento de Ariadne, de Beatriz Azevedo, ainda pelo grupo Barca de Dionisos. Em 1991, dirige Woyzeck, de Georg Büchner, numa grande instalação cenográfica de Marcos Pedroso, dentro de um estacionamento na Rua Augusta. No mesmo ano, encena Florbela, texto que Alcides Nogueira extrai da obra poética de Florbela Espanca, destacando Denise Del Vecchio no papel título.

Em 1994 cria uma ousada versão para Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, com o Núcleo de Pesquisa Teatral, grupo de São José dos Campos; voltando em 1997, com o mesmo elenco, à criação de Salve Manoel, Bandeira do Brasil!, baseada em poemas do escritor modernista. Ainda com esse conjunto encena, em 1998, A Vida de Galileu, de Bertolt Brecht, com Renato Borghi como protagonista.

Sua versão para Toda Nudez Será Castigada, um retorno à obra de Nelson Rodrigues, forma um novo grupo, a Companhia Livre, projetando a atriz Leona Cavalli, em realização de sucesso empreendida em 2000.

Uma versão brasileira para Woyzeck, texto de Georg Büchner, adaptado por Fernando Bonassi, estréia em 2002, no Rio de Janeiro, destacando Matheus Nachtergaele no desempenho central. Em São Paulo cria Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, consolidando Leona Cavalli entre as grandes jovens intérpretes dos últimos anos.

Como light designer sua carreira é pontuada de realizações expressivas. Desde sua estréia em Leonce e Lena, de Georg Büchner, em 1987, Cibele está presente em espetáculos marcantes, tais como Eras - Filoctetes/Horácio/Mauser, de Heiner Müller, direção de Marcio Aurelio; Fica Comigo Essa Noite, de Flávio de Souza, direção de Flávio de Souza; e Ópera Joyce, de Alcides Nogueira, direção de Marcio Aurelio, todas em 1988. No ano seguinte ilumina Essa Valsa é Minha, de William Luce, direção de Marcio Aurelio; O Burguês Fidalgo B, recriação do original de Molière, e Uma Relação Tão Delicada, de Loleh Bellon, ambas direção de William Pereira; Aoi, de Mishima, direção de Antônio Araújo. Nos anos seguintes está, entre outros, em O Amor de Dom Pirlimplim com Belisa em Seu Jardim, de Federico García Lorca, direção de Maria Alice Vergueiro, 1992; I Love Vladímir Maiakóvski e Lili Brik, texto e direção de Beatriz Azevedo; Viagem à Forlí, de Mauro Rasi. A partir de 1993 passa a integrar o Teatro Oficina, responsável pelas criações mais expressivas desde então: Ham-let, de William Shakespeare; Os Mistérios Gozozos, de Oswald de Andrade, 1994; As Bacantes, de Eurípides, 1995; Édipo de Tabas, adaptação de textos de Sêneca e Sófocles, direção de Renato Borghi, pelo Teatro Promíscuo; Para Dar um Fim no Juízo de Deus, de Antonin Artaud, 1996; Ela, de Jean Genet, 1997; Tio Vânia, de Anton Tchekhov, direção de Élcio Nogueira, com o Teatro Promíscuo; As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, direção de Bia Lessa; Cacilda!, texto e direção de José Celso Martinez Corrêa, todas em 1998.

Analisando a encenação de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, o crítico Alberto Guzik observa: "Cibele Forjaz e a cenógrafa e figurinista Simone Mina criaram no centro do amplo palco do Sesc Belenzinho uma espécie de gaiola delimitada por fitas elásticas brancas, e ali situaram o drama. O espetáculo é belo, fluente, permeado de um clima de sonho e melancolia acentuado pela música de Cacá Machado e pela luz de Alessandra Domingues, que dialoga com o realismo, mas não se limita a ele. (...) Um Bonde Chamado Desejo confirma o importante papel que a diretora Cibele Forjaz está desempenhando no teatro brasileiro contemporâneo".1

Notas

1. GUZIK, Alberto. 'Bonde' faz do público testemunha da violência. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8 mar. 2002. Caderno 2.

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DENISE STOKLOS (1950)

Denise Stoklos (Irati PR 1950). Diretora, atriz e escritora. Intérprete de amplo repertório cênico e formação múltipla na área performática, Denise Stoklos atua, escreve e dirige seus espetáculos, que se caracterizam pela crítica à sociedade contemporânea e pela expressividade rebuscada.




Em 1968, enquanto cursa jornalismo na Universidade Federal do Paraná - UFPR e sociologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR, encena o primeiro trabalho autoral Círculo na Lua, Lama na Rua, no qual é responsável pelo texto, pela direção e pela cenografia. Ainda em Curitiba, participa de outras produções amadoras e faz duas substituições nos espetáculos Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, ambos do Teatro de Arena, em temporada na cidade. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1973, e integra o elenco de Missa Leiga, montagem de Ademar Guerra. No ano seguinte, em São Paulo, faz Bonitinha, mas Ordinária, texto de Nelson Rodrigues, sob a direção de Antunes Filho. Em 1976, integra o elenco de Sai de Mim Tinhoso, uma colagem de textos de Bertolt Brecht dirigida por Luis Antônio Martinez Corrêa, e, em 1977, participa de Um Ponto de Luz, de Fauzi Arap, com a Royal Bexiga's Company.



Parte então para o exterior, passando por Israel e países da África e Europa. Em Londres faz cursos de mímica com Desmond Jones, de clown com Franki Anderson e de acrobacia com Eugênio Barba. A influência das especializações e as técnicas aprendidas levam Denise a produzir Three Women in High Heels, montagem que percorre diversas capitais européias, em 1979. Volta ao Brasil em 1980 e apresenta sua última criação, Denise Stoklos: One Woman Show, espetáculo solo cuja temática se estabelece em torno da maternidade e da natureza, misturando recursos de música e dança.



Em 1982, cria Elis Regina, peça sobre a obra da cantora, realizada pouco depois de sua morte. Passa breve temporada em Londres, voltando ao Brasil ainda em 1983 para encenar, sob a direção de Antônio Abujamra, Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico, de Dario Fo e Franca Rame, obra solo com grande repercussão pública, sobretudo pelo uso de soluções mímicas e clownescas, sendo premiada com o Apetesp de melhor atriz.



Em 1987 parte para os Estados Unidos, onde cria Mary Stuart, lançado no Café La MaMa e trampolim para sua projeção internacional, além de fio condutor da produção Casa, espetáculo performático com o qual viaja diversos países, utilizando as línguas nacionais das regiões onde se apresenta, o que consolida sua carreira no exterior. É também essa produção que a faz estabelecer as bases do "teatro essencial", construído sobre as relações reflexivas, que se dão dentro de uma dimensão temporal específica e que atuam sobre atores, personagens, texto, contexto e público.



Suas últimas criações vinculam-se, cada vez mais, a temas sociais e políticos, como Um Fax Para Cristóvão Colombo, em 1992, Amanhã Será Tarde, em 1994, Elogio, em 1995, baseada em escritos de Jorge Luis Borges, Desobediência Civil, na qual se apropria de textos do pré-anarquista Henri Thoreau, em 1998, Vozes Dissonantes, sobre os 500 anos do descobrimento do Brasil, no ano seguinte. A partir de 2001, se dedica a criação de espetáculos que dialogam com a produção de outras artistas, como Louise Bourgeois, espetáculo sobre a vida e obra da escultora francesa, apresentado novamente no La MaMa, em Nova York, e, no Rio de Janeiro, Calendário de Pedra, baseado no poema Book of Aniversary, da escritora norte-americana Gertrude Stein.
Ao apreciar seu trabalho, comenta o crítico Yan Michalski: "(...) por trás do resultado convincente está não só uma inteligência criativa, mas também uma técnica segura e variada. Gestos nítidos, precisos, desenhados com elegância; um domínio do corpo que permite extrair efeitos surpreendentes desse fundamento da gramática mímica que é a variação rítmica; um rosto expressivo, versátil, capaz de intensas mutações; e uma arguta escolha dos poucos objetos usados como apoios, quer se trate de máscaras ou de objetos de uso cotidiano transformados em símbolos".1



Notas
1. MICHALSKI, Yan. Denise Stoklos, uma artista do gesto. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 2, 03 fev. 1981.
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GABRIEL VILLELA (1958)
Antônio Gabriel Santana Villela (Carmo do Rio Claro MG 1958). Diretor, cenógrafo e figurinista. Um dos talentosos e requisitados diretores surgidos na década de 1990, dotado de uma teatralidade barroca, vigorosa, com freqüentes apelos ao imaginário brasileiro.

Após formar-se como diretor teatral pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, estréia, em 1989, com o espetáculo Você Vai Ver o Que Você Vai Ver, de Raymond Queneau, primeira produção do grupo Circo Grafitti. Em seguida, dirige O Concílio do Amor, de Oscar Panizza, uma produção do grupo Boi Voador. Ainda em 1989, cria o espetáculo Relações Perigosas, uma adaptação teatral de Heiner Müller para a obra de Chordellos de Laclos, com atuação da atriz Ruth Escobar.

Com Vem Buscar-Me que Ainda Sou Teu, 1990, de Carlos Alberto Soffredini, recebe Apetesp de melhor cenografia e Molière e Shell de melhor diretor, a peça é uma dramatização da célebre canção O Ébrio, de Vicente Celestino. No mesmo ano, cria A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca, em que a atriz Regina Duarte interpreta o príncipe Segismundo.

A partir de 1992, inicia uma profícua relação com o grupo mineiro Galpão, encenando uma adaptação para a rua de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, empreendimento bem-sucedido que culmina em muitas viagens pelo Brasil e Europa, arrebatando diversos prêmios, considerado um marco da década de 1990.

Dirige A Guerra Santa, em 1993, uma versão brasileira de A Divina Comédia realizada por Luís Alberto de Abreu, tendo Beatriz Segall à frente do elenco e em 1994, A Falecida, de Nelson Rodrigues, com Maria Padilha. No ano seguinte cria, com o Galpão, A Rua da Amargura, texto de Eduardo Garrido que explora os ritos da Semana Santa nos circos-teatros, ganhando os prêmios Molière e Shell de melhor direção. Em 1995, dirige Marieta Severo, no espetáculo A Torre de Babel, de Fernando Arrabal.

Em 1996, dirigindo Renata Sorrah e Xuxa Lopes, realiza espetáculo a partir do texto Mary Stuart, de Schiller. No mesmo ano, estréia O Mambembe, de Artur Azevedo, uma produção do Teatro Popular do Sesi - TPS, encena Ventania, de Alcides Nogueira, e A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza. E, com os atores do Teatro Castro Alves, na Bahia, cria uma versão multicultural para O Sonho, obra de August Strindberg.

Com atores do núcleo Glória, em 1997, no Rio de Janeiro, encena dois espetáculos polêmicos: Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, e A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca.

Em 1999 monta Replay, de Max Miller, e, em 2000, inaugura um série de retomadas da obra do dramaturgo e compositor Chico Buarque, com a montagem de A Ópera do Malandro. Em 2001, seguem-se mais duas realizações com texto de Chico Buarque, os musicais Os Saltimbancos e Gota d'Água, uma transposição de Medéia para o universo dos morros cariocas. Em 2002, lança A Ponte e a Água da Piscina, de Alcides Nogueira, onde J. C. Serroni desenha uma cenografia que sugere um espaço bombardeado, cercado por muros com cacos de vidro.

A encenação de Gabriel para Romeu e Julieta é uma das grandes montagens brasileiras do texto de Shakespeare, como destaca Alberto Guzik: "O mineiro Gabriel Villela mergulhou em suas memórias de infância. Buscou músicas de procissões e serenatas para compor a trilha sonora e encomendou a Luciana Buarque figurinos recriados a partir de velhas roupas de teatro. Usou vários elementos circenses para definir a estética do trabalho. Os atores se apresentam sobre pernas-de-pau ou caminham como se fossem equilibristas sobre a corda bamba. Esse Romeu e Julieta, interpretado com graça e arrebatamento pelo Grupo Galpão, ganha a plena dimensão quando apresentado na rua".1

Notas

1. GUZIK, Alberto. 'Romeu e Julieta', na montagem apaixonante do Grupo Galpão. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 12, 01 fev. 1994.
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GERALD THOMAS (1954)


Geraldo Thomas Sievers (Rio de Janeiro RJ 1954). Diretor. Polêmico encenador, criador de uma estética elaborada a partir do uso diferenciado de cada um dos recursos teatrais e orientada pelo conceito de "ópera seca", Gerald Thomas renova a cena brasileira nas décadas de 1980 e 1990.

A carreira de Gerald Thomas tem início em Londres, onde participa do grupo performático e multimídia Exploding Galaxy. No grupo amador Hoxton Theatre Company, realiza suas primeiras experiências como diretor. Vai para Nova York, e trabalha no La MaMa, espaço dedicado a encenações experimentais de todo o mundo, onde produz três espetáculos consecutivos, com textos de Samuel Beckett. Desde o primeiro projeto, Thomas visa uma proposta teatral, na qual a identificação emocional seja suprimida, dedicando-se a mostrar o pensamento como processo, e o processo como tempo e espaço da cena.

Os dois primeiros espetáculos que o diretor encena no Rio de Janeiro são remontagens. Quatro Vezes Beckett, 1985, em que acrescenta o texto Nada à Trilogia Beckett, e Quartett, 1986, em que retoma o texto de Heiner Müller, ambos com um ano de intervalo em relação à montagem americana. Com o primeiro, interpretado por Rubens Corrêa, Sergio Britto e Ítalo Rossi, numa produção do Teatro dos Quatro, recebe o Prêmio Molière. O segundo tem no elenco Tônia Carrero e, novamente, Sergio Britto. Em Carmem com Filtro, 1986, o diretor utiliza texto de sua autoria para o espetáculo, protagonizado em São Paulo por Antonio Fagundes e Clarisse Abujamra, numa produção da Companhia Estável de Repertório - CER. O espetáculo e sua direção recebem o Prêmio Mambembe. No mesmo ano, cria um novo espaço cênico no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, e encena Eletra Com Creta, espetáculo radical e controverso, no qual, por meio e telas e luz, cria um efeito de edição cinematográfica.

Funda, em 1986, a Companhia de Ópera Seca, onde solidifica sua dramaturgia paródica e desconstrutivista. O texto, vinculado ao momento da cena, não obedece uma forma estática e se estabelece, muitas vezes, a partir de frases e comentários. Elemento recorrente de suas produções, a voz gravada do diretor comenta, em off, a ação. Em alguns espetáculos essa função se duplica, o protagonista funciona como um porta-voz do diretor. A trajetória de Gerald Thomas como diretor está também marcada por longas parcerias, com a cenógrafa Daniela Thomas, criando ambientes hipotéticos e mutáveis, como a biblioteca da Trilogia Kafka, e com a atriz Bete Coelho, protagonista de seguidas encenações, admirada por sua capacidade de sintetizar em sua atuação o exagero e a crítica, a dramaticidade e o distanciamento, princípios cênicos da interpretação valorizados pelo diretor. A Trilogia Kafka, 1988, uma interpretação livre dos textos do escritor theco Franz Kafka, encenada em São Paulo, confere ao diretor o Prêmio Molière. A pesquisadora Sílvia Fernandes analisa o papel preponderante da luz na encenação, segundo o qual "a iluminação transformava o espaço cênico num lugar mutante, onde as cenas curtas eram decupadas pela rapidez dos cortes bruscos, resultando em imagens intermitentes que lembravam filmes do princípio do século".1

Em 1989, estréiam Carmem com Filtro 2 e Mattogrosso, ópera assinada pelo diretor em parceria com o músico Philip Glass. Thomas volta a Beckett encenando Fim de Jogo, em 1990. No mesmo ano, encena M.O.R.T.E., onde Bete Coelho, que faz seu último espetáculo na companhia, encarna o próprio autor do espetáculo, como criador e criatura da cena que anima. Fernanda Torres assume o papel central dos três espetáculos seguintes: The Flash and Crash Days - Tempestade e Fúria, 1991, ao lado da mãe, a atriz Fernanda Montenegro, O Império das Meias Verdades, 1993, e UnGlauber, 1994. Em Nowhere Man, 1996, Luiz Damasceno protagoniza a versão de Thomas para o mito do homem que faz um trato com o Diabo, vendo em Fausto o artista que troca a alma pela fama. Ao remontar Quartett, ainda 1996, com Edilson Botelho e Ney Latorraca, transforma os dois personagens em açougueiros e os coloca em uma câmara frigorífica para abordar os limites de sobrevivência da espécie humana. Em 1997, estréia Os Reis do Iê-Iê-Iê, no Festival de Curitiba. No mesmo ano, em Belo Horizonte, encena A Breve Interrupção do Fim, com o Grupo de Dança 1º Ato. Em 1999, cria Ventriloquist, uma metáfora para a polifonia do discurso e, no ano seguinte, Tragédia Rave. Em 2000, estréia NxW (Nietsche x Wagner), e Esperando Beckett. O Príncipe de Copacabana e Deus Ex-Machina são montados em 2001 e, em 2003, encena Tristão e Isolda, de Richard Wagner, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Paralelamente às estréias brasileiras, Gerald Thomas encena espetáculos em outros países, principalmente na Alemanha.

Para o filósofo Gerd Bornheim, Gerald Thomas representa, no campo das discussões teatrais, mais do que um propositor de estéticas, mas "um pensador prático criador de uma Poética, ou seja, de um modo de produzir o novo".2

No último capítulo do livro que escreve sobre a obra do encenador, a pesquisadora Sílvia Fernandes conclui: "Sem território fixo, com espaço que se subleva à intervenção da luz, com a música impactante que desnorteia os sentidos, com os retalhos de personagens arrastados pelo ator com o narrador que é também encenador e, como ele, se recusa à narrativa, com os corpos de leitmotive seccionando a cena em minúsculas veias sentindo, com movimento construtivo em progresso, que leva o espetáculo seguinte a negar o anterior, a encenação de Thomas transforma o espectador em parceiro de um jogo libertário, feito sem regras fixas. Compõe um anteparo subversivo ao desejo, demasiado humano, de totalização".3

Notas

1. FERNANDES, Sílvia. Memória e invenção: Gerald Thomas em cena. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 23.
2. BORNHEIM, Gerd. In: CARMEM COM FILTRO 2. Direção Gerald Thomas; texto Gerd Bornheim. Rio de Janeiro, 1989. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado em 1989.
3. FERNANDES, Sílvia. Memória e invenção: Gerald Thomas em cena. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 298-299.
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LUIS OTAVIO BURNIER (1956-1995)

Luís Otávio Sartori Burnier Pessôa de Mello (São Paulo SP 1956 - Campinas SP 1995). Diretor e ator. Intérprete e performer de largos recursos, ligado à antropologia teatral, um dos fundadores e líder do grupo LUME.


Cursa artes plásticas no Conservatório Carlos Gomes de Campinas, formando-se em 1969, ali também freqüentando cursos de interpretação e direção teatral. Entre 1976 e 1980 faz o curso de estudos teatrais do Institut d'Etudes Theatrales da Sorbonne Nouvelle, Paris, França. Conhece as manifestações asiáticas em 1979, num curso sobre kathakali, no Centre Mandapa, e a Ópera de Pequim, com Mme. Tang (do Musée de l'Homme), na Sorbonne. Em 1983 inicia-se na Antropologia Teatral, através de um estágio com Tereza Nawrot, aprofundado, no ano seguinte, com Togeir Wethal e Roberta Carreri, no Odin Theatr de Eugênio Barba. Em 1985, obtém o mestrado na Sorbonne Nouvelle com uma tese sobre formação do ator. Nos três anos seguintes, faz cursos de mímica nas escolas de Etiènne Decroux e Jacques Le Coq, além de dança moderna com Cynthia Briggs.

Essa formação múltipla leva-o a ministrar aulas no curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, onde cria o Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão, LUME, iniciando a pesquisa e divulgação mais estruturada da antropologia teatral no país. Cria, dirige e interpreta muitos espetáculos, com destaque para Burna, 1974; La Statuaire Mobile, 1978; Curriculum, 1979, Hablando Com El Cuerpo, 1981, e Linguagem do Corpo, 1982. Em 1983 faz a direção de atores de Rei Lear, de Shakespeare, montagem de Celso Nunes para o Teatro dos Quatro.

Após a criação do LUME dirige Macário, 1984; Circo da Paz, de Juan Rulfo, em Campinas, 1986, e O Guarani, de Carlos Alberto Soffredini, em 1986, no Teatro Ruth Escobar. Em 1988 encena Kelbilim, O Cão da Divindade, solo do ator Carlos Simioni. Em 1991 encena Wolzen, uma adaptação livre da Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues. Em 1995 inicia a direção de Cnossos, com o ator Ricardo Puccetti, trabalho que não chega a concluir, falecendo em meio ao processo.

Burnier participa, ainda, de incontáveis eventos em diversas partes do mundo, ligados à pesquisa, ensino ou divulgação das técnicas da antropologia teatral. Torna-se membro da International School of Theatre Anthropology, ISTA, em 1992. É o tradutor brasileiro de duas importantes publicações: Além das Ilhas Flutuantes e A Arte Secreta do Ator - dicionário de antropologia teatral, ambos escritos por Eugênio Barba.

Analisando seu trabalho, anota a professora Suzi Frankl Sperber: "Com sensibilidade fina, atores e Luís Otávio apreenderam aquilo que caracteriza o universo dos simples do interior do Brasil. Este que parece arcaico e rústico, é uma sabedoria. Está no não dito, na ação, sobretudo nos gestos, na postura física, no corpo do excluído e das personagens. O que é dito não é representação: fundamentalmente é - dando força ao não dito. Este revela e ao mesmo tempo faculta a contemplação e a quietude. Entrelaça atores, personagens e público, num congraçamento que se assemelha a um ritual e com uma força e uma vitalidade que estão fazendo falta no cenário das artes cênicas".1

Notas

1. SPERBER, Suzi Frankl. O Lume, a pesquisa da arte de ator no Brasil e a expressão do sagrado. Revista do Lume, Campinas, n. 2, p. 56-61, 1999.

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RENATO COHEN (1956-2003)

Renato Cohen (Porto Alegre RS 1956 - São Paulo SP 2003). Diretor, performer e teórico. Pesquisador de arte e tecnologia, atua em São Paulo desde meados dos anos 80, um dos diretores mais conectados às inovações multimídias e performáticas.


Após realizar mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, com temas associados às técnicas da performance, Renato Cohen torna-se professor da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, respeitado como um especialista em tais domínios.

O grupo por ele dirigido, Orlando Furioso, possui como eixo de investigação a extensão do conceito de cena e de teatralização, incorporando recursos da performance, das artes plásticas, do cinema e dos audiovisuais, almejando encontrar uma obra de arte total. O grupo é precursor da associação entre arte e tecnologia no Brasil. As montagens do Orlando Furioso são pioneiras também, no uso de espaços não convencionais, utilizando bosques, galpões, piscinas e sites virtuais em suas montagens. Nesse sentido, a pesquisa volta-se para a espetacularidade da cena, a atuação performática, o uso de narrativas não-lineares que incorporam o acaso e o processo e as relações com o público.

Sua estréia dá-se com Magritte, o Espelho Vivo, em 1986, inspirado na obra de René Magritte, concebido para um espaço no Museu de Arte Contemporânea, MAC, utilizando parte das salas reservadas às Bienais, no Parque do Ibirapuera. A não-delimitação entre as linguagens empregadas cria a ambígua posição da obra entre teatro e performance. A crítica Mariângela Alves de Lima comenta o espetáculo: "Magritte, o Espelho Vivo, dialogava de modo original com a ilogicidade sugerida pela obra do artista belga. Mas associava à temática atemporal da psique profunda os recursos do vídeo e a alta definição corporal da performance. E foi especialmente notável, para um grupo iniciante, o acabamento técnico que se expressava por um trabalho coreográfico exigente e criativo e pela virtualidade que nada ficava a dever ao repertório surrealista consagrado".1

Sturm and Drang/Tempestade e Ímpeto, em 1991, é realizado no jardim da Casa Modernista, na Vila Mariana, abrindo-se no ambiente natural um discurso sobre os horizontes da criação poética.

Em 1995, Renato Cohen debruça-se sobre Vitória Sobre o Sol, segundo ele "uma recriação sobre repertórios do futurismo russo, nas obras de Velimir Khlébnikov, Maiakóvski, Malévitch e do místico Gurdjieff". Em 1997, concebe Ka-Poética, inspirado em Vélimir Khlébnikov, autor radical ligado às vanguardas russas do começo do século, com um novo grupo, denominado Ka. O trabalho foi concebido como "hipertexto épico" e produzido pelo Laboratório de Mídia da Unicamp. Ainda em 1997, avançando na pesquisa sobre as vanguardas históricas, cria Máquina Futurista, uma performance sobre arte e tecnologia, que integra a Mostra de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural. O grupo de Renato Cohen torna-se um dos primeiros grupos brasileiros a realizar performances - em tempo real - para audiência na rede. Na mesma ocasião, com pacientes psiquiátricos, encena Ueinzz, Viagem à Babel, experiência limite com não-atores.

O texto de Gertrud Stein Dr. Faustus Liga a Luz, encenado com o grupo Ka, constitui-se em nova experiência com os limites da linguagem, em 1999. No mesmo ano, retoma o trabalho com o grupo Ueinzz, originado na vivência com pacientes psiquiátricos, criando Dedalus, e, em 2001, realiza com eles Gothan São Paulo, ambos "apresentados poucos dias para o público paulistano, mas suportadas por uma investigação teórica que contribui para procedimentos terapêuticos e para o campo da arte-educação".2

Como autor, Renato escreve A Performance Como Linguagem, primeira incursão brasileira sobre o tema, em 1989 e, dez anos depois, publica Work in Progress na Cena Contemporânea, obra que analisa realizações de criadores de vanguarda, como também resgata as origens nas pesquisas das vanguardas históricas.

Fazendo um artigo por ocasião do súbito falecimento do artista, a crítica Mariângela Alves de Lima analisa a contribuição de Renato Cohen: "Duas tábuas e uma paixão não seriam suficientes para o diretor, professor e teórico Renato Cohen, morto há uma semana. Sua última criação, definida como a busca de 'novas arenas de teatralização' projetava-se em direção ao espaço combinando representações presenciais feitas no Brasil com outras emitidas de outros pontos do planeta. Sintonizando com a vanguarda do século 20 revia, a cada trabalho, as matrizes teóricas e os suportes materiais da representação. O tempo pretérito do verbo, aliás, parece especialmente inadequado para esse artista focado no devir da arte cênica".3

Notas

1. LIMA, Mariângela Alves de. Um teatrólogo focado no futuro. São Paulo, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 25 out. 2003.
2. Idem.
3. Idem.
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ULYSSES CRUZ (1952)

Ulysses Cruz (São Paulo SP 1952). Diretor. Encenador que desponta nos anos 80, marcado pela forte visualidade que imprime às realizações, partindo, preponderantemente, de adaptações de obras literárias para a cena.


Suas primeiras montagens são na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde monta O Coronel dos Coronéis, de Maurício Segall, em 1981, e o musical Lola Moreno, de Bráulio Pedroso, Geraldo Carneiro e John Neschling, em 1982.

Em 1983 torna-se diretor assistente de Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral, CPT, colaborando numa remontagem de Macunaíma e nas criações de Nelson 2 Rodrigues e Romeu e Julieta, aprendizado que lhe permite alçar novos vôos criativos. Ali mesmo cria, em 1985, com o grupo Boi Voador, uma primorosa encenação de Velhos Marinheiros, inspirado em Jorge Amado. Desligado do CPT, o grupo inicia vida própria, elaborando em 1986 uma ousada versão para O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind. Ligado à Escola de Samba Vai-Vai, Ulysses cria enredos e desfiles nos anos de 1986 e 1987. Sobre seu trabalho nesse período declara o crítico Yan Michalski: "Um estilo próprio, no qual bem assimiladas influências das descobertas cênicas de Antunes fundem-se com uma empostação épica, e que alcançou em Os Velhos Marinheiros, adaptação de um romance de Jorge Amado, e O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind, um resultado interessante".1

Além de Fragmentos de um Discurso Amoroso, livre adaptação para a obra de Roland Barthes, em 1988; Ulysses desdobra-se em mais quatro encenações: com o grupo Boi Voador põe em cena Corpo de Baile, espetáculo que se apropria de arquétipos e figuras inspiradas em Guimarães Rosa; com renovado sopro poético cria, em São Paulo, A Cerimônia do Adeus, de Mauro Rasi, destacando Marcos Frota, Antônio Abujamra e Cleyde Yáconis nos desempenhos centrais; em Portugal elabora uma ousada versão para Henrique IV, de Luigi Pirandello; e, com o grupo Delta de Londrina, cria Erêndira, baseado em Gabriel García Márquez.

Em 1989 encena, destacando a atriz Renata Sorrah, Encontrarse, novamente de Luigi Pirandello, em controvertida montagem. No ano seguinte, encena A Secreta Obscenidade de Cada Dia, de Marco Antônio de la Parra, afirmando Antônio Abujamra em sua carreira de ator. Em comemoração ao vigésimo aniversário do Teatro Municipal de Santo André monta História do Soldado, de C. F. Ramuz e Igor Stravinsky, com a participação do Corpo de Baile Especial, Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, e dos atores Antonio Fagundes, Antônio Petrim, Cacá Carvalho, entre outros. Novamente com o Boi Voador, encena Pantaleão e as Visitadoras, adaptação do original de Mario Vargas Llosa, 1990, e El Señor Presidente, baseado em Miguel Angel Asturias, 1992. No mesmo ano realiza mais uma parceria com Antonio Fagundes: Macbeth, de William Shakespeare. Envereda, em 1994, numa personalíssima versão para Anjo Negro, de Nelson Rodrigues. Em 1995, para o Teatro Popular do Sesi, TPS, monta Péricles, Príncipe de Tiro, outro Shakespeare, com uma exuberante cenografia de Hélio Eichbauer. Rei Lear, em 1996, e Hamlet, destacando Marco Ricca em 1997, representam novas incursões sobre a obra shakespeariana. Nesse ano, é convidado a integrar o grupo de diretores da TV Globo.

Yan Michalski reafirma Ulysses Cruz como um dos artistas hegemônicos no teatro de encenação, próprio desse período: "Entre os diretores revelados na década de 80, Ulysses Cruz distingue-se pelo seu espírito experimental, preferindo trabalhar com elencos jovens e em cima de uma matéria-prima literária extraída de obras originalmente não teatrais; o que não o impediu de mostrar, por exemplo, em Cerimônia do Adeus, onde dirigia atores consagrados num texto escrito para o palco, um ofício sólido e um generoso sopro de inspiração. Com uma carreira profissional sólida, é um dos encenadores mais solicitados e respeitados de sua geração, conforme atestam os prêmios concedidos às suas montagens".2

Notas

1. MICHALSKI, Yan. Perfil Analítico dos anos 80. Rio de Janeiro: s.e., s.d. Material datilografado.
2. MICHALSKI, Yan. "Ulysses Cruz". In PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.

processo coletivo e processo colaborativo

PROCESSO COLETIVO E PROCESSO COLABORATIVO:

HORIZONTALIDADE E TEATRO DE GRUPO

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André Carreira e Daniel Olivetto. Respectivamente: Professor do Programa de Pós-Graduação em Teatro (Mestrado da Universidade do Estado de Santa Catarina) e diretor do Grupo (E)xperiência Subterrânea. PQ CNPq; e Bolsista de Iniciação Científica do CNPq, graduando em Artes Cênicas pelo CEART- UDESC, ator e diretor da Cia. Experimentus (Itajaí – SC).

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Atualmente, no seio do movimento teatral da América Latina, a expressão teatro de grupo tem uma presença que indica novas tendências organizacionais que têm constituído um campo específico do fazer teatral. Diferentemente das estruturas grupais características do teatro dos anos 70, e começo dos anos 80 do século XX, onde o grupo definia-se como espaço de coletividade e, principalmente, de contestação aos regimes autoritários, o teatro de grupo nos nossos dias parece representar um modelo que se define mais pela articulação de projetos cênicos.



No caso do Brasil, o movimento do teatro de grupo foi o responsável pela introdução de prática de criações coletivas (o processo coletivo). Dessa forma, os grupos aparentemente levaram o ator para o centro dos processos criativos. Posteriormente a este fenômeno se deu, no período imediato da pós-ditadura, a chamada década dos encenadores. Já no começo dos anos 90, houve uma retomada das criações coletivizadas, no entanto, neste momento estas prática receberam o nome de processo colaborativo.



O teatro de grupo, e a implementação de processos coletivizados de produção e criação, têm se caracterizando pela contestação e resistência. Conseqüentemente, a reivindicação da coletividade representa a construção de um lócus de um teatro que se opõe radicalmente ao teatro de elenco e, fundamentalmente, ao ‘sistema da fama’, isto é, ao império da celebridade por sobre o discurso criativo da cena.



No seio das iniciativas (1) levadas a cabo pelos pesquisadores do Projeto O Teatro de Grupo e a Construção de Modelos de Trabalho de Ator, durante os anos de 2004 e 2005, foram coletadas informações que revelam diversas semelhanças no que diz respeito ao passado e ao contexto atual do teatro de grupo brasileiro. Entre estes elementos podemos citar: o ideal coletivo; projeto estético definido; necessidade da manutenção de um núcleo estável de pessoas; existência de comunhão e afetividade entre os membros do grupo; necessidade da coletividade; desenvolvimento de pesquisas de linguagem; tomada de decisões horizontalizada, e a presença de uma figura de diretor menos forte; e, principalmente, a existência de um trabalho continuado que se estenda além das montagens de espetáculos, configurando aquilo que seria definido como um trabalho colaborativo.



Esse conjunto de elementos representa um referencial para se delimitar a idéia de teatro de grupo que é reivindicada por um grande número de projetos coletivos que estão em funcionamento no país. O que caracteriza boa parte dos grupos teatrais atualmente é a busca por formas de organização do trabalho grupal que se sustentem em processos de pesquisas atorais, como elemento de base para a criação do texto dramático, e do espetáculo, de um modo geral. Cabe destacar, nestas práticas grupais, uma valorização da figura do ator na construção do objeto textual e na própria definição dos rumos da encenação em sua totalidade. Isso repercute de forma direta na instauração de processos criativos que adquirem a forma de processo coletivo ou de processo colaborativo. Nestes dois modos de trabalho, o ator passa a ser fundamental na criação da dramaturgia, e conseqüentemente cumpre uma função central na criação do espetáculo.



A pesquisadora Adélia Nicolete, referindo-se ao processo coletivo no Brasil, afirma que este diz respeito mais ao teatro da época da ditadura militar. Segundo ela, este tipo de criação era um processo “onde a figura do diretor como condutor absoluto foi questionada ou abolida e o intérprete tomava o centro do processo e dele irradiava a obra” (2003). Neste sentido, era comum que se apagassem as assinaturas individuais para a criação, isto é, a criação do texto e a direção passavam a ser assinadas pelo grupo.



No começo dos anos 90, começa a aparecer o uso do termo ‘processo colaborativo’, que segundo Antonio Araújo, diretor do Teatro da Vertigem, seria “o compartilhamento da criação pelo dramaturgo, diretor, ator, os outros criadores, sem uma hierarquia nessa criação. O diretor não é mais importante que o dramaturgo, o dramaturgo não é mais importante que o ator e assim por diante” (Araújo apud Fischer 2005). O que o difere do processo coletivo, seria centralmente o fato de cada indivíduo assinar sua função, ainda que todos discutam os aspectos relativos ao trabalho dos outros. Portanto, no processo colaborativo, nos momentos de tomada de decisões polêmicas cada um responde por sua respectiva área, dando a ‘palavra final’.



Luís Alberto de Abreu, que tem uma extensa prática como dramaturgo, inclusive no momento de gênese do processo colaborativo, expõe uma possível evolução deste conceito:



"O processo colaborativo provém em linhagem direta da chamada criação coletiva, proposta de construção do espetáculo teatral que ganhou destaque nos anos 70, do século 20, e que se caracterizava por uma participação ampla de todos os integrantes do grupo na criação do espetáculo (...) A criação coletiva possuía, no entanto, alguns problemas de método. Um deles era a talvez excessiva informalidade do próprio processo. Não havia prazos, muitas vezes os objetivos eram nebulosos e a experimentação criativa era vigorosa, não havia uma experiência acumulada que pudesse fixar a própria trajetória do processo". (FREITAS, 2004)



A denominação processo colaborativo é recente e, segundo Eduardo Freitas, cabe ressaltar que “não é exclusiva do dramaturgo [Abreu], pois resulta de uma prática adotada em fins da década de 90 por grupos de teatro de São Paulo, principalmente, e por dramaturgos como Fernando Bonassi, Hugo Possolo, Reinaldo Maia e Sérgio de Carvalho” (idem 2004).



Mas o que distinguiria o processo colaborativo da já experimentada criação coletiva? Segundo diferentes criadores, o processo colaborativo traz como diferencial a presença da figura do dramaturgo dentro do processo de trabalho. A ausência desta figura na criação coletiva, ou processo coletivo ocasionava, possivelmente, um acúmulo de experimentações cênicas que geravam discursos desorganizados, pela carência de um gesto que definisse um estrutura textual.



Neste sentido a experiência do Teatro Experimental de Cali (TEC), dirigido por Enrique Buenaventura, grande expoente da criação coletiva latino americana, indica que o lugar de criador da dramaturgia estava claramente preservado, e recaia sobre o próprio Buenaventura que reunia ainda o papel de diretor do grupo.



É interessante observar que se o ator pretendia, no processo da criação coletiva, fugir do predomínio do dramaturgo, e do texto ‘sacro santo’, no processo coletivo não pode escapar do olhar centralizador do diretor. Pode-se pensar que a predominância ora da figura do diretor, ora do autor, que interferem de forma decisiva nos processos propostos como experiência horizontais e frontalmente coletivizas, não esconderia realmente uma potencial deficiência desses modos coletivos. Seria inexorável para o funcionamento do espetáculo uma ação individual que organizasse finalmente o material coletivo?



A década de 80 caracterizou-se como um período de grande presença do diretor na definição dos rumos da cena nacional. O reaparecimento, nos anos 90, de um modo operacional baseado no coletivismo e na reivindicação de uma horizontalidade, que seria ponto de partida e ponto de chegada da criação, não poderia ser pensado como uma resposta à década dos encenadores? O centralismo do diretor aparentemente é discutido com a adoção de procedimentos e de poéticas horizontais. O processo colaborativo pode ser pensando também como um discurso político que ensaia um réquiem para os diretores, sem, no entanto, produzir nenhuma ação concreta que conduza ao enfraquecimento dessa figura que continua sendo fundamental na estruturação da cena nacional.



Essa horizontalidade experimentada tanto no processo coletivo como no processo colaborativo não implica no desaparecimento factual das funções que compõem os procedimentos básicos de criação teatral. Percebe-se que estas funções adquirem novas formas, pois são compartilhadas por diferentes membros dos grupos, ou até mesmo funcionam de modo rotativo. As funções estão presentes nos processos e são claramente reconhecidas pelas equipes de trabalho, mas tais funções não são assinadas por indivíduos que ficam particularizados na ficha técnica.



Os processos criativos aqui tratados direcionam o ator para um diálogo mais imperativo dentro da criação do texto e do conjunto do espetáculo. Isso determina que se reorganizem as posturas dos membros dos grupos de tal forma que os próprios fundamentos do espetáculo sofrem deslocamentos. Colocar o ator no centro do trabalho, como uma voz que define os fundamentos do mesmo, parece ser o embrião que permite surgir um gesto coletivo definido, que se diferencia das iniciativas criativas tradicionais.



Surge então a idéia de um ator ‘propositivo’. O estabelecimento de novos lugares para os sujeitos de uma criação, tal como afirma Antonio Araújo, faz desse ator, "um ator que já não é o ator da 'marca', é um ator propositivo, o ator que pensa, que discute os rumos do trabalho (...). Esse é um ator ligado ao conceito e discussão do trabalho com o todo. É um ator muito propositivo"(Araújo apud Fischer: 2005).



Neste quadro, rompe-se a autoridade da direção monolítica: o dramaturgo sai do gabinete e vai para a sala de ensaio; o ator discute a obra, dá idéias; e assim, todos os sujeitos do grupo passam a criar em conjunto. MENÇÃO A MONTAGEM----Parece haver aqui uma profunda relação com a idéia modelar do teatro de grupo. Trata-se, sobretudo, de uma nova organização do papel do ator na criação. De um executor de papéis ele passa a fazer parte da discussão da totalidade do espetáculo, daquilo que se quer ver em cena, coletivamente.



Em muitas produções do teatro de grupo existe uma ênfase nas criações que articulam processos coletivistas e isso reafirma a própria noção de grupalidade. O trabalho que reivindica uma poética do coletivo (mas não todo teatro um gesto coletivo?) busca um outro diálogo com o conjunto da criação teatral, e pretende desfazer as fronteiras que a rigidez das funções criativas estabeleceu no teatro.

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Nota

(1) Foram realizadas diversas entrevistas nas cidades de Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo e Florianópolis, com 32 conjuntos teatrais conformados a pelo menos cinco anos.

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Referências

ARAÚJO, Antônio; GARCIA, Silvana; GUEDES, Antônio; SAADI, Fátima. O Teatro da Vertigem e o Radical Brasil. In: Folhetim – Revista do Teatro do Pequeno Gesto. Rio de Janeiro: 2004.

CARREIRA, André L.A.N.; OLIVEIRA, Valéria. Teatro de Grupo: Modelo de Organização Geração de Poéticas. In: O Teatro Transcende – Revista do 17o FUTB. Blumenau: 2003.

FERNANDES, Silvia. A Criação Coletiva do Teatro. In: Urdimento – Revista de Estudos Sobre Teatro na América Latina. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina, Nr. 2, Agosto, 1998.

FERRACINI, Renato. A Arte de Não Representar Como Poesia Corpórea do Ator. Campinas: Editora da Unicamp/Imprensa Oficial, 2001.

FISCHER, Stela R. Processo colaborativo: experiências de companhias teatrais brasileiras dos anos 90. Dissertação de Mestrado da Universidade Estadual de Campinas/SP: 2005.

FREITAS, Eduardo L. V. de (Eduardo Viveiros). Luis Alberto de Abreu e o Processo Colaborativo. Comunicação apresentada na XIIª Semana de Ciências Sociais da PUC-SP / 2004, no Grupo de Trabalho: História, Arte e Tecnologia.

GARCIA, Silvana. O Ator e Coletivo. In: O Teatro Transcende – Revista do 17o FUTB. Blumenau: 2003.

NICOLETE, Adélia. Dramaturgia em processo colaborativo e sua relação com a criação coletiva e o dramaturgismo. In: Anais do II Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós Graduação em Artes Cênicas. Florianópolis: 2003

OLIVEIRA, Valéria. Teatro de Grupo: Noções, Matrizes e Contemporaneidade. Dissertação de Mestrado. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Florianópolis: 2005.

SILVEIRA, André. O Dramaturgo no Processo de Criação do Espetáculo Teatral: O Trabalho Solitário e o Trabalho Solidário. Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Florianópolis, 2004.

Após muitas tentativas o OPERÁRIO chega ao poder e é reeleito

Esperança de mudança significativa na vida social da população brasileira.


Ações assistencialistas (programas sociais), combate à inflação, a ampliação das exportações e a contenção de despesas.

Escândalo do mensalão

Baixa inflação, taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), redução do desemprego e constantes recordes da balança comercial. Incentivo às exportações, à diversificação dos investimentos feitos pelo BNDES, estimulou o micro-crédito e ampliou os investimentos na agricultura familiar através do PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar . O maior crescimento real do salário mínimo, resultando na recuperação do poder de compra do brasileiro.


Liquidação do pagamento das dívidas com o FMI

PAC (Programa de Aceleração do Crescimeto) visa a aceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que estabelece o objetivo de nivelar a educação brasileira com a dos países desenvolvidos até 2021 e prevê medidas até 2010