O modelo de pensamento de Barba chega ao Brasil através de pessoas do teatro que foram a Europa a procura de um contato mais profundo com o método de Grotowiski, e, porém, o que encontraram foi contexto das idéias e práticas de Barba florescendo no velho continente. Barba vem ao Brasil pela primeira vez em junho de 1987, a convite do LUME - laboratório de pesquisa teatral coordenado por Luis Otavio Burnier - que explorava idéias sobre o trabalho do ator que iam de encontro aos pensamentos de Eugenio Barba e o Odin Teatret, e tinham então o intuito de promover um intercambio teatral produtivo entre o teatro brasileiro e as práticas do Odin. A experiência foi bastante polêmica, principalmente pelo imprevisto de uma atriz do Odin adoecer, impedindo a apresentação de quatro dos cinco espetáculos programados, o que resultou na falta de uma demonstração mais concreta do trabalho do Grupo, provocando uma incompreensão dos seus métodos por parte de muitos artistas brasileiros que participaram das outras atividades programadas, como seminários e oficinas ministradas por Barba. Muitos deles reclamaram de colocações pouco claras de Eugênio, assim como de uma desorganização de metodologia nas oficinas. É interessante notar também um comentário publicado na época pelo boletim informativo INACEN em que Barba diz: “Já dei cursos em várias partes do mundo. Essa é a primeira vez que encontro atores que não sabem repetir ações.”. Nota-se que tantos desencontros surgidos nesse primeiro encontro provinha do abismo que distanciava as práticas e conceitos de atuação entre os atores e atrizes brasileiros e os profissionais de Eugênio Barba. Porém a intenção de Luis Otavio Burnier era justamente proporcionar um diálogo entre esse fazer teatral, gerar reflexões e pensamentos através deste encontro, o que decepcionou alguns entusiastas, que esperavam conclusões prontas de Barba. Entre críticas, elogios, decepções, e aprendizagens, é evidente que a nova lógica proposta por Barba, de pensar e sistematizar um teatro a partir do ator, gerou um amplo leque de possibilidades para o fazer teatral brasileiro. As práticas contaminadas Após o contato com Eugênio Barba e o Odin Teatret, o fazer teatral brasileiro foi se transformando, construindo uma nova lógica que (anunciada às referências a eles ou não) permite identificar os rastros que o pensar deste teórico/ prático reverberou em nosso país. Primeiramente, a noção de que as práticas de um grupo geram procedimentos pedagógicos influência a concepção de diversos grupos pós-Barba, proporcionando assim o surgimento de escolas teatrais organizadas pelos grupos, bem como as propostas de “oficinas” ministradas também por estes. Todos os grupos teatrais brasileiros que partiram para a prática de oferecer oficinas, palestras, demonstrações/apresentações, são de influência dos pensamentos de Barba, que carregam a noção de que teatro é feito no treinamento e no intercâmbio, instituindo então nos grupos brasileiros, novos parâmetros técnicos e sociais. A noção de treinamento também repercutiu em novos vínculos simbólicos e sociais, colocando os atores que antes no Brasil se formavam para dar aulas, num permanente processo de formação e aprendizagem, colocando-se agora num contínuo papel de aluno/pedagogo. Assim também deslocando a função do diretor, que ampliou sua atuação de acordo com a constante reformulação dos materiais criativos dos atores. Em alguns casos ocorrendo até o desaparecimento da função do diretor devido à autonomia gerada ao ator, como é o caso atual do próprio LUME[1]. A noção de ator-compositor contamina de forma abrangente e intensa nos grupos teatrais, estendendo e impregnando também nas escolas. Desta forma o fazer teatral brasileiro se transforma numa preocupação muito maior, na valorização do trabalho do ator como construção de linguagem estética, abandonando a antiga supervalorização de um teatro com premissas políticas.
[1] Principalmente depois da morte do seu coordenador Luis Otavio Burnier.
1987 - A atriz performática Denise Stoklos desponta internacionalmente em carreira solo. O espetáculo Mary Stuart, apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, é totalmente concebido por ela. Seu trabalho é chamado de teatro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais e o máximo dos próprios meios do ator, que são o corpo, a voz e o pensamento.
[1] Principalmente depois da morte do seu coordenador Luis Otavio Burnier.
1987 - A atriz performática Denise Stoklos desponta internacionalmente em carreira solo. O espetáculo Mary Stuart, apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, é totalmente concebido por ela. Seu trabalho é chamado de teatro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais e o máximo dos próprios meios do ator, que são o corpo, a voz e o pensamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário