terça-feira, 24 de novembro de 2009

Grupos

Teatro da vertigem


O primeiro passo do Teatro da Vertigem teve início em 1991 com experimentações baseadas na Mecânica Clássica e aplicadas ao movimento expressivo do ator. Tal pesquisa gerou um repertório de treinamento que foi concretizado estética e artisticamente com O Paraíso Perdido - primeiro espetáculo da companhia - que estreou um ano após o início das pesquisas na Igreja Santa Ifigênia em São Paulo e permaneceu em cartaz por oito meses consecutivos participando, ainda, de festivais nacionais.

Buscando novas diretrizes, agora ainda mais focadas na utilização de espaços não convencionais, o grupo inicia seu segundo projeto, O Livro de Jó, aprofundando-se não só nas possibilidades cênicas desse tipo de espaço, ou seja, na exploração e utilização de objetos e materiais do local, mas também nas alterações de dramaturgia, direção, cenografia, iluminação e interpretação. O espetáculo estréia em 1995, no Hospital Humberto Primo em São Paulo e segue carreira apresentando-se em Curitiba, em Bogotá - Colômbia, em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e na Dinamarca, no Festival de Artes de Ärhus, onde a companhia realizou workshop demonstrativo do seu processo de trabalho dentro da Conferência Latino Americana de Teatro. Ainda na Dinamarca, em Holsterbro, o grupo participou de uma Visita de Pesquisa ao Odin Teatret, de Eugenio Barba. O Livro de Jô foi o primeiro espetáculo brasileiro a representar o Brasil no III Festival Internacional de Teatro Anton Tchekhov em Moscou em comemoração ao centenário de seu teatro.

Nesse mesmo período, o Teatro da Vertigem iniciou os trabalhos de pesquisa do espetáculo seguinte, o projeto Apocalipse, solidificando o processo colaborativo de construção dramatúrgica. Apocalipse 1,11 estreou, oficialmente, dia 14 de janeiro de 2000, no antigo Presídio do Hipódromo, em São Paulo, viajando em seguida para Lisboa - Portugal através da Fundação Calouste Gulbekian, para Curitiba e para o Rio de janeiro onde cumpriu temporada no Prédio do antigo DOPS. O espetáculo também foi apresentado em Londrina, em Colônia na Alemanha e em Wroclaw, na Polônia.

Com a concretização do seu terceiro espetáculo, criou-se, então, uma trilogia denominada Trilogia Bíblica e o grupo passa a apresentar os três espetáculos juntos, como no Festival de Teatro de São José do Rio Preto de 2002 e em São Paulo, em comemoração aos 10 anos de sua existência, com o apoio da Brasil Telecom e a premiação da Lei de Fomento à Cultura. De maio a julho de 2003, dentro do Projeto de Residência Artística do Teatro da Vertigem na Casa Nº1, numa iniciativa inédita de parceria entre o Patrimônio Histórico, a Secretaria Municipal de Cultura e um grupo de teatro, o Teatro da Vertigem apresentou as primeiras atividades abertas ao público em geral; uma programação trimestral com oficinas de interpretação, iluminação, palestras, espetáculos teatrais, música, debates e grupos de estudos, quase todas, com entrada franca. Além dessas atividades a companhia desenvolveu, ainda na Casa Nº1, o trabalho de treinamento, estudos, reuniões e preparação de seu projeto seguinte, BR3: Brasilândia - Brasília - Brasiléia.

No ano seguinte, com apoio da Lei de Fomento ao Teatro para cidade de São Paulo, o grupo iniciou investigação em Brasilândia, estabelecendo uma base de trabalho que serviu de apoio às ações desta primeira etapa da sua pesquisa, desenvolvendo, assim, oficinas gratuitas aos moradores locais, além de realizar, através de uma ação continuada, um trabalho de instrumentalização com "oficineiros/multiplicadores" que já vinham mantendo projetos artísticos e sociais na comunidade local.

Em julho desse mesmo ano, dando continuidade à sua investigação, a companhia seguiu para a segunda etapa da sua pesquisa, viajando por terra para Brasília/DF e Brasiléia/AC, passando por diversas cidades, participando de encontros, palestras e ministrando oficinas. Em 2005, o LOT, uma associação cultural peruana para a investigação teatral multidisciplinar sob direção de Carlos Cueva e um grupo de jovens artistas vindos de diferentes áreas profissionais, convidou o Teatro da Vertigem para participar do projeto Zona Fronteriza - onde juntos criaram uma intervenção artística num prédio desocupado localizado no centro de Lima no Peru.

Ao retornar, o Teatro da Vertigem retoma o projeto BR-3 e, em mais uma iniciativa inédita, com patrocínio da Petrobrás, estréia o espetáculo em fevereiro de 2006, no Rio Tietê em São Paulo com temporada precocemente finalizada dois meses após seu início.

A convite do Itaú Cultural, o grupo participou da exposição Primeira Pessoa com a instalação e a performance Subtextos que antecipavam as comemorações de seus quinze anos de existência.

A frustração perante a impossibilidade de continuação da temporada de BR-3, abriu uma nova possibilidade de experimentação. Em agosto de 2006 a companhia foi convidada pelo Consulado Francês para participar de uma homenagem ao dramaturgo Jean-Luc Lagarce no Teatro Laboratório - ECA/USP. Após leitura de alguns textos sugeridos, o diretor Antônio Araújo escolheu História de Amor em função do núcleo atual de três atores e do conteúdo abordado pela obra. A pesquisa da palavra torna-se interessante ao grupo e a possibilidade de uma investigação interpretativa tripartida aparece na realização da montagem que não pretendia ser espetacular. A estréia deste trabalho aconteceu em janeiro de 2007, vinculada à exposição sobre a trajetória dos 15 anos do grupo na galeria Olido em São Paulo e o espetáculo permaneceu em cartaz no Teatro Cacilda Becker, no Teatro João Caetano e no Tusp, na mostra Experimentos, seguindo depois para São José do Rio Preto, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e São Luís.

Em outubro de 2007 a companhia retornou com BR-3 só que, desta vez, na Baía de Guanabara, transpondo a montagem realizada no Rio Tietê para um novo cenário e adaptando o espetáculo às dimensões gigantescas da Baía, a partir dos pilares da Ponte Rio-Niterói.

Durante a temporada de BR-3 no Rio de Janeiro, o Teatro da Vertigem iniciou um estudo com o intuito de desenvolver experimentações que pretendiam dialogar com a performance e com a intervenção urbana. Neste período, através de encontros teóricos e práticos foi criado um vídeo performance junto com atores locais chamado de Exercício 1.

No retorno da temporada carioca, os estudos teóricos e práticos sobre performance e intervenção urbana continuaram. E em janeiro de 2008 o grupo apresentava O livro de Jó em Santiago do Chile. Ao retornar, dando continuidade a sua pesquisa, agora também com estudos sobre filosofia, a companhia iniciou um projeto de intercâmbio artístico com dois outros grupos, o Lot - Lima /Peru e o Zikzira - Belo Horizonte/MG. Desse intercâmbio surgiu a intervenção cênica A Última Palavra é a Penúltima, a partir do O Esgotado de Gilles Deleuze. A intervenção aconteceu na passagem subterrânea da Xavier de Toledo, centro de São Paulo, que estava fechada desde 1998.

Desde o início, o Teatro da Vertigem encontrou em seu percurso alguns elementos característicos como a utilização de espaços não convencionais da cidade, a criação de espetáculos com base no depoimento pessoal dos seus integrantes, o forte eixo investigativo que prima pela busca de um teatro construído de forma coletiva e democrática entre atores, dramaturgo e encenador - conhecido como processo colaborativo e a pesquisa sobre os processos de interferência na percepção do espectador. Tais características impulsionam o trabalho do grupo e mantêm seu repertório sempre ativo.

Atualmente o Teatro da Vertigem segue com seus estudos teóricos e discussões sobre sua próxima pesquisa.

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Teatro do Ornitorrinco

O Teatro do Ornitorrinco é uma companhia teatral sediada em São Paulo, criado por Cacá Rosset, Luiz Galizia e Maria Alice Vergueiro, em 1977.

Peças encenadas

Seu primeiro trabalho, Os mais fortes, reunia três obras de August Strindberg: A mais forte, Pária e Simun. Em seguida realizou Teatro do Ornitorrinco canta Brecht e Weill, espetáculo teatral baseado em canções de diversas peças da dupla Brecht e Weill.

Mahagonny Songspiel, obra da mesma dupla, foi a continuação de um trabalho cuja linha centrava-se em duas linguagens: o teatro e a música. Em 1983, o Ornitorrinco representou o Brasil no VI Festival Internacional de Teatro em Caracas; no XI Festival Internacional Cervantino do México e no Festival Internacional das Artes, em Monterrey. Em 1984, o grupo participou do IV Festival Latino-americano de Nova York e do Festival Internacional de Manizales, realizando turnês pelo México e Colômbia.

De regresso a São Paulo, o Ornitorrinco monta O belo indiferente , de Jean Cocteau, com Cacá Rosset no papel título e Maria Alice Vergueiro no monólogo que lhe valeria, anos mais tarde, o prêmio de melhor atriz.

Ubu

Em 1985 estréia UBU / Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes, trabalho baseado no ciclo Ubu de Alfred Jarry. Este espetáculo reunia numa comédia satírica, linguagens diversas como circo, dança, teatro e música. Com cenários e figurinos assinados por Lina Bo Bardi a peça permaneceu em cartaz durante 27 meses e foi assistida por mais de 350.000 pessoas. Representou o Brasil no VII Festival Internacional de Manizales (Colômbia); no Festival Latino-americano do México, no Festival Internacional de Cádiz (Espanha) e nos festivais internacionais de Las Palmas e Tenerife (Ilhas Canárias). Em 1988, participou do Encontro com o Brasil, nas cidades de Kassel, Nuremberg e Erlangen (Alemanha). Em 1987, o grupo encena Teledeum, do polêmico autor catalão Albert Boadella, inicialmente interditada pela pela polícia federal. O texto é uma comédia cáustica que reúne um padre católico, pastores protestantes, numa crítica irônica aos fanatismos religiosos. Depois de intensa campanha pela liberação foi apresentada por 18 meses no Teatro Ruth Escobar (SP) e representou o Brasil nos festivais internacionais de Bogotá (Colômbia) e Caracas (Venezuela).

Em 1988, a montagem de uma peça der Brecht e Weill representa o Brasil no Festival Internacional de Manizales (Colômbia). A velha dama indigna, com adaptação e direção de Cacá Rosset, contou no elenco com a laureada atriz Maria Alice Vergueiro e Guilherme Vergueiro nos teclados.

Experiências

Em 1989 o Teatro do Ornitorrinco realiza uma experiência inédita : a montagem didática de um espetáculo através de oficinas de cenografia, dança, circo, artes gráficas e ensaios abertos precedidos de um ciclo de conferências sobre a vida e a obra de Molière. O resultado foi um dos maiores sucessos do Grupo: O doente imaginário, comédia-ballet de Molière que, após sua pré-estréia em Sertãozinho, participa do 1º Festival das Artes da Cidade do México e do Festival San José por la paz, em Costa Rica. Em 1990 representa o Brasil no Festival Latino de Nova York e encerra sua temporada em São Paulo, aclamada por mais de 150.000 pessoas, dois anos depois de sua estréia.

Em janeiro de 1991, o Ornitorrinco recebe um convite do produtor Joseph Papp para encenar uma peça no consagrado New York Shakespeare Festival. Em julho desse ano, Cacá Rosset apresenta, no Delacorte Theatre do Central Park de Nova York, uma montagem que envolve mais de 40 pessoas entre atores, bailarinos, músicos e técnicos: Sonho de uma noite de verão de William Shakespeare consegue lotar os 2000 lugares do Delacorte durante duas semanas. Como extensão do NYSF, o grupo apresenta o Sonho em Cidade do México onde obtém idêntico sucesso. A estréia no Brasil acontece no Teatro Municipal de Santo André, em janeiro de 1992 e em março o Sonho inaugura o Teatro Ópera de Arame, um arrojado projeto arquitetônico que a Prefeitura local entrega ao público na abertura do Festival de Teatro de Curitiba. Em abril a peça chega a São Paulo onde permanece em cartaz durante mais de dois anos.

Nesse mesmo ano, no mês de junho, o Ornitorrinco representa o Brasil no VII Festival de Teatro latino-americano de Miami (EUA) com a primeira montagem do recentemente criado Núcleo 2, dirigido por Maria Alice Vergueiro: Amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim, aleluia erótica de Federico García Lorca. A peça, apresentada posteriormente em São Paulo, realizou turnês em Espanha e Portugal e foi apresentada no Festival de Teatro de Manizales (Colômbia) com extensão na cidade de Pereira.

The comedy of errors, dirigida por Cacá Rosset com cenários e figurinos de José de Anchieta foi encenada no Delacorte Theatre de Nova York em agosto de 1992 com elenco e técnicos americanos.O papel de Adriana foi representado por Marisa Tomei (vencedora do Oscar). A versão brasileira, com o elenco do Teatro do Ornitorrinco estreou em São Paulo em maio de 1994. A comédia dos erros, encenada por William Shakespeare 400 anos antes (1594) permaneceu em cartaz durante dois anos outorgando a Eduardo Silva, no papel de Dromio de Siracusa, os prêmios Shell, Molière, APCA e Prêmio Mambembe de melhor ator.

10 anos

Em março de 1996, comemorando 10 anos de sua estréia no Teatro João Caetano, o Ornitorrinco re-apresenta o memorável UBU, Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes de Alfred Jarry. Esta montagem foi acompanhada da exposição UBU A patafísica nos trópicos, contando com a participação de mais de 60 artistas plásticos. A peça permaneceu um ano em cartaz, encerrando sua carreira no Teatro João Caetano, o mesmo local onde estreara em 1985 com cenários e figurinos da arquiteta Lina Bo Bardi.

Em 1998, o Ornitorrinco encena O avarento, comédia de Molière que lota, ao longo daquele ano, o Teatro Popular do SESI sendo aplaudida, nas suas 250 apresentações, por um público estimado em mais de 130.000 pessoas.

Scapino, adaptação de Les Fourberies de Scapin de Molière, situada nas docas do porto de uma Nápoles contemporânea, estreou no Teatro Sergio Cardoso e posteriormente no Teatro Maria Della Costa permanecendo em cartaz durante o ano 2000 com enorme sucesso de público e crítica.

30 anos

Em 2007, iniciam-se as comemorações do trigésimo aniversário do grupo, com a montagem de O Marido Vai à Caça, vaudeville de Georges Feydeau. A montagem marca também o reencontro, no palco, de Cacá Rosset com Christiane Tricerri. O espetáculo, com cenáros e figurinos de José de Anchieta Costa, ficou em cartaz no TUCA e tinha em seu elenco nomes como: Ariel Moshe, Anderson Faganello, Octávio Mendes e Javert Monteiro.

O ano de 2008, para o Ornitorrinco, começa com dois novos grandes projetos: o lançamento de um livro comemorativo da trajetória dos 30 anos e uma nova montagem bastante ambiciosa, A Megera Domada, de William Shakespeare. Repetindo a parceria com Tricerri e José de Anchieta, Cacá convoca para esta montagem alguns nomes recorrentes de outros espetáculos: Guilherme Freitas, William Amaral, Ronaldo Malachias, Rubens Caribé, Eduardo Silva, Gerson Steves, Anderson Faganello e Paulo Vasconcelos, além de Maureen Miranda, Hugo Nápoli e grande elenco. A montagem, que estreiou em maio no Teatro Sérgio Cardoso tinha direção musical de Pedro Paulo Bogosian.

Prêmios

1977 Os mais fortes MEC-SNT Melhor espetáculo Molière Melhor atriz

1977 Ornitorrinco canta Brecht e Weill Governador do Estado Melhor diretor

1982 Mahagonny INACEN Melhor espetáculo Governador do Estado Melhor espetáculo Melhor diretor

1985 UBU, Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes Prêmio Internacional da Crítica do Festival de Manizales (Colômbia) ACCT do México Melhor espetáculo estrangeiro Molière Melhor diretor Mambembe Melhor diretor Melhor figurinista APCA Melhor atriz Melhor diretor Melhor espetáculo Prêmio APETESP Melhor espetáculo Melhor atriz Melhor diretor INACEN Melhor espetáculo Picadeiro Melhores do circo Governador do Estado Melhor espetáculo Melhor cenografia Prêmio 19 de Setembro outorgado pelo Presidente do México Prêmio Ollantay - CELCIT 1986 / Espanha



1988 Teledeum Prêmio CELCIT Colômbia Melhor espetáculo estrangeiro

1989 O doente imaginário INACEN Melhor espetáculo APCA Melhor figurino

1991 Amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim Associação de críticos teatrais de Miami Melhor espetáculo estrangeiro

1992 Sonho de uma noite de verão APCA Melhor ator coadjuvante Melhor produção teatral Divulgação do teatro brasileiro no exterior Mambembe Melhor figurino

1992 TUDODEUMAVEZ Prêmio Carbonell Melhor atriz

1994 A comédia dos erros APCA Melhor figurino Melhor ator Molière Melhor ator Shell Melhor ator


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Lume

Um breve histórico


As origens do LUME repousam na experiência do seu fundador Luís Otávio Burnier (1956 - 1995) em seus anos de treinamento como discípulo de Etienne Decroux, e em pesquisas com diversos mestres como Eugenio Barba, Philippe Gaulier, Jacques Lecoq, Ives Lebreton, Jerzy Grotowski e de estudos do teatro oriental (Noh, Kabuki e Kathakali).
Desde a sua fundação, o LUME criou 23 espetáculos, e mantém atualmente diversas obras em repertório. Estes espetáculos, juntamente com o conjunto de workshops e demonstrações técnicas do grupo, vêm sendo apresentados pelo Brasil e por mais de 20 países.
Além das pesquisas entre os membros do grupo, os intercâmbios com outras artistas são uma prática constante do LUME. Através desses se cria a possibilidade de entrar em contato com outros modos de fazer e pensar a arte, com a imensa riqueza das diferenças e a compreensão mais clara e precisa do caminho que o grupo vem trilhando desde seu início. Ao longo dos anos, o LUME desenvolveu uma relação especial de trabalho com os mestres Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret, Dinamarca), Natsu Nakajima (Japão), Nani e Leris Colombaioni (Itália), Sue Morrison (Canadá), Tadashi Endo (Japão) e Kai Bredholt (Odin Teatret, Dinamarca).
Barão Geraldo, local da sede do LUME, tornou-se um importante pólo teatral no Brasil, onde diversos grupos e artistas se instalaram para se dedicar à pesquisa em busca de um fazer teatral que valorize o ator e de um teatro que reflita sua identidade e suas ansiedades estéticas e artísticas, tudo numa atmosfera de colaboração e troca.
O LUME já encantou platéias em Argentina, Peru, Equador, Bolívia, Grécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Itália, Espanha, Inglaterra, Escócia, França, Alemanha, Bélgica, EUA, Canadá, México, Egito e Israel.

SOBRE O LUME TEATRO

"... Trabalhar o ator é, sobretudo e antes de mais nada, preparar seu corpo não para que ele diga, mas para que ele permita dizer. A arte de ator é uma viagem para dentro de nós mesmos, um reatar contato com recantos secretos, esquecidos, com a memória. A verdadeira técnica da arte de ator é aquela que consegue esculpir o corpo e as ações físicas no tempo e no espaço, acordando memórias, dinamizando energias potenciais e humanas, tanto para o ator como para o espectador."

Luís Otávio Burnier (1956-1995) - Fundador do Lume Teatro

Em quase 24 anos de existência o LUME se consolida como um dos mais importantes grupos teatrais da atualidade no Brasil e também como um importante centro de pesquisa teatral, não só pela singularidade de suas criações artísticas, metodologias de trabalho de ator e publicações teóricas, como também por sua postura ética frente ao ofício teatral.

Criado em 1985 na Universidade de Campinas (Unicamp), com a idéia de ser um centro de estudo e pesquisa da arte de ator, o LUME tornou-se um dos poucos grupos do país a conseguir manter um projeto de trabalho a longo prazo, com um elenco fixo de atores dedicados à construção de um modo próprio de se pensar e fazer teatro.

Nesta trajetória uma das principais fontes de criação e renovação do LUME TEATRO tem sido a constante realização de intercâmbios com importantes artistas, grupos e mestres da cena artística mundial. Trocas estas que possibilitam um confronto/diálogo entre diferentes modos de se fazer e pensar o teatro, realçando as distintas identidades e contribuindo para a sempre necessária "puxada de tapete" no desenvolvimento das pesquisas do Lume. Dentre as colaborações mais íntimas, frutíferas e duradouras podemos destacar os seguintes parceiros: Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret, Dinamarca), Natsu Nakajima, Anzu Furukawa e Tadashi Endo (Japão), Teatro de Los Andes (Bolívia), Nani e Leris Colombaioni (Itália), Sue Morrison (Canadá), Kai Bredholt (Odin Teatret, Dinamarca) e Norberto Presta (Argentina).

No LUME se busca o "ser ator" através do princípio de se pesquisar o homem e suas relações, corpo e dimensão interior, via treinamento e representação; o desenvolvimento de técnicas pessoais de representação para o ator, que extrapolem os limites da expressão física e vocal; a construção de espetáculos de forte expressividade e capacidade de interação com o público, que se adaptam tanto ao palco italiano tradicional como também aos espaços abertos e não convencionais.

Com sua postura ética-estética particular, o LUME criou não apenas o seu próprio fazer teatral, que se reflete nas experiências artísticas singulares provocadas por seus espetáculos, mas, enquanto Centro de Pesquisa Teatral, também se tornou um ponto de referência para atores e pesquisadores do teatro que bebem deste redimensionamento do ofício do ator, enquanto técnica e ética. O LUME através de seus espetáculos, cursos, trocas culturais, intercâmbios de trabalho, reflexão teórica, o palco e a rua, celebra o teatro como a arte do encontro e o espaço ideal de valorização do ser humano.

Além da sua atuação na área artística, cultural e acadêmica em todo o Brasil, o LUME TEATRO constantemente participa de importantes festivais, seminários e eventos internacionais. Nossos espetáculos e demais atividades já foram mostrados em 23 países: Argentina, Peru, Equador, Bolívia, Costa Rica, Nicarágua, Grécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Itália, Espanha, Inglaterra, Escócia, França, Alemanha, Bélgica, EUA, Canadá, México, Portugal, Egito, Israel e Coréia do Sul.



REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO DE ATORES E PESQUISADORES TEATRAIS

Desde seu início o LUME TEATRO teve uma preocupação de encontrar meios que permitissem passar sua experiência e os resultados de suas buscas a outros artistas e aprendizes interessados. Sempre nos norteamos pelo princípio de que a transmissão dos procedimentos técnicos e criativos teatrais, adquiridos empiricamente via fazer prático, também se daria da mesma maneira: no encontro e troca de um ator mais experiente ou que domina os meandros de seu ofício com o aprendiz ou ainda com outro ator que possui outras maneiras de conduzir seu fazer. Aqui é necessário frisar que para nós do LUME o ofício do ator abrange não somente os procedimentos técnicos e criativos presentes em todas as etapas do fazer teatral como também os princípios éticos que balizam este fazer. Assim foi, desde tempos imemoriais, que a tradição teatral se perpetuou e cresceu, chegando até os dias de hoje. E foi nesta tradição didática que o LUME se inseriu e que marcou profundamente nossa maneira de ensinar. Também é importante sublinhar que vemos a transmissão de nossos conhecimentos como a possibilidade de ser um agente provocador que catalise e potencialize a busca dos próprios caminhos para aqueles que entram em contato com o nosso fazer teatral. Não acreditamos de modo algum na transmissão de métodos prontos e formas acabadas, mas sim em elementos que permitam vislumbrar caminhos próprios e as singularidades de cada artista. Dentro destes parâmetros o LUME criou, então, suas próprias metodologias de ensino que possuem um grande leque de possibilidades: cursos de curta duração (de 7 a 15 dias); estágios, assessorias e orientações práticas e teóricas de maior duração; demonstrações práticas de trabalho; intercâmbios abertos à comunidade com mestres renomados da arte teatral; trocas de trabalho com artistas e grupos em nossa sede ou quando em viagem; palestras, mesas redondas, simpósios e publicações que tratam mais do caráter reflexivo da transmissão dos conhecimentos. De modo geral o público alvo de nossas atividades didáticas são atores, bailarinos, palhaços, e performers dos mais distintos níveis de experiência e formação; pesquisadores teatrais e estudiosos da academia e, como se pode notar no anexo I, nossa abrangência tem sido muito grande (de 1997 a 2008 foram aproximadamente 5029 alunos no Brasil e exterior), mas o potencial de crescimento ainda é enorme.
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Companhia do latão


PESQUISA EM TEATRO DIALÉTICO

A Companhia do Latão é um grupo teatral de São Paulo interessado na reflexão crítica sobre a sociedade atual. Seu trabalho inclui espetáculos, atividades pedagógicas, a edição da revista Vintém, bem como uma série de experimentos artísticos.
A origem do grupo está ligada à montagem de Ensaio para Danton (1996), livre adaptação do texto A morte de Danton, de Georg Büchner, com direção de Sérgio de Carvalho.
No ano seguinte, o diretor reúne uma equipe em torno do projeto Pesquisa em teatro dialético, para a ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo, momento em que se forma efetivamente o grupo de pesquisa teatral, que passa a ser co-dirigido por Márcio Marciano. Nos dois anos de residência naquele espaço se realiza um estudo da obra teórica de Bertolt Brecht como um modelo para o teatro épico-dialético no Brasil. A abertura pública do projeto ocorreu com a leitura do texto A Santa Joana dos matadouros, de Brecht, seguida de uma palestra de Roberto Schwarz, em 03 de julho de 1997. Nos meses seguintes, o grupo trabalha sobre o conjunto de escritos teóricos de A compra do latão, procurando confrontar a teoria de Brecht com observações realizadas nas ruas de São Paulo.

A experiência deu origem ao espetáculo Ensaio sobre o latão (1997). Em 1998, a leitura de Santa Joana se converte numa encenação de grande repercussão que aproxima a Companhia do Latão de espectadores ligados a movimentos sociais e universitários. Mesmo trabalhando com uma dramaturgia pré-existente, as primeiras montagens da Companhia do Latão apresentam um caráter de releitura processual, espetáculos ensaísticos no sentido de uma recusa a se inserir no sistema produtivo como um “produto acabado”. As regras do jogo teatral são como que expostas, em encenações desprovidas de maiores efeitos cenográficos, centradas nos atores e música, em que o espaço da ficção surge da colaboração imaginária do espectador. Ainda no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, o grupo dá início a uma produção de dramaturgia própria, realizada na sala de ensaios de modo coletivizado, com base em improvisações dos atores e conjugada a uma pesquisa musical épica conduzida por Lincoln Antonio e Walter Garcia. O nome do sujeito, de outubro de 1998, é uma peça de feições históricas, que se passa em Recife, na segunda metade do século 19. No seu movimento crítico existe a representação de aspectos do projeto de modernização do estado na perspectiva neoliberal empreendido pelo governo brasileiro do fim dos anos 1990. A coletivização da escrita se radicaliza no espetáculo seguinte, A comédia do trabalho, que nasce de um processo de ensaios abertos, integrado a diversas oficinas teatrais e estréia no ano 2000. Concebida como peça de intervenção, em estilo de farsa de agitprop, tem pré-estréias em escolas e num assentamento do MST. A montagem amplia o intercâmbio do grupo com setores politizados do país, sendo apresentada também em sindicatos, encontros estudantis e fóruns sociais. É mantida em repertório por anos, atingindo mais de 70 mil espectadores.

Entre 2001 e 2003, a Companhia do Latão retorna ao Teatro Cacilda Becker, no bairro da Lapa, em São Paulo, onde tinha ocorrido sua pré-história com Ensaio para Danton. Ali o grupo produz suas encenações mais experimentais, também baseadas em textos próprios. Auto dos bons tratos (2002) se baseia num episódio histórico do século 16, relativo ao processo inquisitorial do capitão Pero do Campo Tourinho. A forma jurídico- processual da cena atualiza a perspectiva da peça didática. A peça é apresentada em Portugal, no Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, juntamente com A comédia do trabalho.

A reflexão sobre formas de desmontagem ideológica, capazes de perturbar a confiança na narrativa cênica, marca a dramaturgia do período, influenciada também pela leitura de Machado de Assis. Em torno dos processos de manipulação e alienação da indústria cultural se constrói a forma teatral de O mercado do gozo (2003), sobreposta ao tema da prostituição, dos paraísos artificiais e do aburguesamento da cidade de São Paulo no início do século 20.
Em paralelo às grandes montagens, a Companhia do Latão realiza uma série de experimentos mais curtos, às vezes na forma de leituras cênicas, em ocasiões comemorativas: Lorca, Dali, Buñuel (apresentado no centenário de nascimento de García Lorca, 1998), Homenagem aos trabalhadores de Eldorado dos Carajás (2000, na exposição Êxodos, de Sebastião Salgado), Ensaio da Comuna (2001, nos 150 anos da Comuna de Paris), O grande circo da ideologia (2001 e 2003, no Fórum Social Mundial), entre outros. Alguns desses experimentos se tornam encenações de maior repercussão, sendo reapresentados diversas vezes. João Fausto (1999), baseado no libreto de Hanns Eisler, feito a convite do Instituto Goethe de São Paulo, é uma sátira aos intelectuais com passado de esquerda realizada na forma de uma peça-conferência. Valor de troca (2002), baseado numa notícia de jornal em que uma moça é estuprada por policiais é um experimento musical que reflete sobre o discurso da justiça e suas categorias ideais. Seria depois exibido na televisão, numa reescritura de 2007.

Com o apoio do Instituto Goethe, a Companhia do Latão realiza alguns importantes intercâmbios com artistas alemães, entre os quais Peter Palitzsch, colaborador de Brecht no Berliner Ensemble e Alexandre Stillmark, também oriundo do movimento teatral da Alemanha Oriental. Um desses trabalhos, ocorrido com o ensaísta Hans-Thies Lehmann, tem como tema a obra do dramaturgo Heiner Müller. Dá origem a Equívocos colecionados (2004), exercício de ruptura da fábula e de “diálogo com os mortos” da cultura brasileira, composto a partir de entrevistas de Müller e de temas do filme Terra em transe, de Glauber Rocha.

No mesmo ano, o grupo estréia Visões siamesas, um de seus textos mais complexos, que tem como ponto de partida um conto de Machado de Assis. A peça examina o processo social e psicológico de produção de imagens compensatórias em relação ao fracasso da experiência histórica.

As viagens da Companhia do Latão por todo o país em 2005, com um repertório de quatro espetáculos (o que não ocorria desde 1999) encerra um ciclo de trabalho do grupo. Os novos integrantes aliados a Helena Albergaria, Ney Piacentini, Martin Eikmeier e Sérgio de Carvalho dedicam-se no ano seguinte ao Projeto Companhia do Latão 10 anos, cujo objetivo é o resgate do acervo literário, iconográfico e videográfico.

A estréia em agosto de 2006 de O círculo de giz caucasiano, com direção de Sérgio de Carvalho e artistas oriundos de vários grupos de pesquisa, é mais que um retorno a Brecht. Inaugura um procedimento de cooperações e uma intensa produção de experimentos audiovisuais. O reconhecimento internacional se amplia com o convite a Sérgio de Carvalho para uma conferência na Casa Brecht de Berlim sobre a experiência em teatro dialético da Companhia do Latão. O círculo de giz caucasiano é apresentado em Havana onde obtém o prêmio Villanueva, como melhor espetáculo estrangeiro de 2007, concedido pela União dos Escritores e Artistas de Cuba. O Estúdio do Latão é inaugurado em julho do mesmo ano e passa a sediar oficinas e abrigar uma pesquisa teatral e audiovisual intitulada Ópera dos vivos, que se desdobra entre 2008 e 2009. No final de 2008 o grupo lança o livro Companhia do Latão 7 peças (Cosacnaify) e realiza o experimento videocênico Entre o Céu e a Terra. Os livros Introdução ao teatro dialético: experimentos da Companhia do Latão e Atuação crítica: entrevistas da Vintém e outras conversas (ambos editados pela Expressão Popular) assim como o sétimo número da revista Vintém, o CD Canções de Cena II e o DVD Experimentos videográficos do Latão, são lançados em 2009.


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